O fogo ainda é muito utilizado no campo. Na agricultura, é ferramenta de preparo das áreas para plantio e, na pecuária, é aplicado para renovar pastos com infestação de plantas invasoras e para eliminar os resíduos de capim rejeitados pelo gado. O amplo uso dessas técnicas está relacionado, principalmente, ao baixo custo e à fácil adoção, mas os prejuízos são igualmente numerosos.
Cerca de 75% das emissões brasileiras de gases contribuintes para mudanças climáticas são associadas ao uso do solo, ou seja, a queimadas que geram desmatamentos, principalmente na Amazônia. O dado é de estudo feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Universidade de São Paulo, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, a Universidade Federal Rural da Amazônia e o The Woods Hole Research Center (Instituto de Pesquisas Norte-americano sobre Mudanças Climáticas).
Mas há outras alternativas ao uso do fogo. Hoje existem estudos e aplicações de sistemas agropecuários sustentáveis, que não provocam o esgotamento do solo, da água e do ar, alerta o pesquisador da Embrapa Roraima, Haron Xaud. “O uso frequente do fogo vai degradando os sistemas, que perdem em biodiversidade e em propriedades do solo, e que prejudicam a produção no médio e longo prazo. São impactos negativos que não possuem contrapartidas positivas relevantes para justificar o manejo do fogo”, explica.
Conheça algumas das técnicas alternativas ao uso do fogo já usadas no País e disseminadas por técnicos de órgãos públicos de apoio aos produtores rurais:
Sistemas agroflorestais (SAFs)
A iniciativa promove o consórcio, que é o cultivo de duas ou mais culturas em uma mesma área e ao mesmo tempo. O sistema ainda cultiva espécies arbóreas para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. Algumas vantagens desse sistema, segundo a Embrapa, são: menos limitações de terreno e riscos de degradação inerentes à atividade agrícola; otimização da produtividade; queda na perda de fertilidade do solo; queda do ataque de pragas. Já a inclusão das árvores apoiam na recuperação das funções ecológicas, no combate à erosão, no aporte de matéria orgânica e na restauração da fertilidade do solo.
“A utilização dos SAFs permite uma maior produtividade geral por área utilizada e por mais tempo. Isto promove o aumento da renda e fixa o produtor rural em uma mesma área que vai aumentando seu valor ao longo dos anos”, explica Haron Xaud.
Sistema plantio direto (SPD)
Nesse sistema, o plantio não conta com etapas do preparo da aração e da gradagem. O solo é mantido coberto por plantas em desenvolvimento e resíduos vegetais, que o protegem do impacto direto das gotas de chuva e das erosões hídrica e eólica. O plantio é feito de forma simples, com abertura do sulco de semeadura, semeadura, adubação e, eventualmente, com aplicação de herbicidas.
O sistema de plantio direto dispensa o uso do fogo, pois promove a conservação e o enriquecimento do solo com matéria orgânica. “O fogo passa a ser completamente desnecessário e até mesmo uma ameaça a este sistema de plantio”, comenta Haron Xaud.
Plantio direto por trituração da capoeira
Desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental e instituições parceiras, esse sistema determina que a área de plantio seja preparada com biomassa gerada pela trituração da capoeira (vegetação secundária), que é utilizada como cobertura da terra. “Hoje, essa tecnologia encontra-se em expansão em diversas outras unidades da Embrapa na Amazônia e já é utilizada por inúmeros produtores rurais familiares”, afirma Xaud. Entre as vantagens do sistema estão a redução na emissão de carbono na atmosfera e a comprovada melhora das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, entre outras.
Integração lavoura-pecuária-floresta
Aqui, o agricultor integra árvores com pastagens ou lavouras, o que possibilita a exploração econômica do solo durante todo o ano. Segundo a Embrapa, o sistema “favorece o aumento na oferta de grãos, de carne e de leite a um custo mais baixo, devido à sinergia que se cria entre lavoura e pastagem”. Esse tipo de plantio também dispensa o uso do fogo. Mais do que isso, nesse cenário, as chamas passam a ser “inimigas” do plantio, segundo o pesquisador: “A ocorrência do fogo ameaça o desenvolvimento das árvores plantadas. Mesmo para o pasto, as queimadas e incêndios podem causar perdas significativas e quebra do ciclo de produção de forragem.”
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