Considerada um dos maiores problemas de saúde pública na América Latina, a doença de Chagas é objeto de estudo pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo deles é compreender os elementos envolvidos na cadeia de transmissão da doença de Chagas no semiárido brasileiro.
Para isso, os cientistas conduziram um estudo de campo no município potiguar de Marcelino Vieira, onde, em 2015, ocorreu um surto possivelmente causado por transmissão oral. Foram três mortes e 18 casos registrados, todos relacionados ao consumo de caldo de cana processado junto com o vetor do protozoário, no caso, o barbeiro (Triatoma brasiliensis), segundo o relato de pacientes.
O percevejo da espécie Triatoma brasiliensis – popularmente conhecido como barbeiro – é o principal vetor da doença de Chagas na região estudada. De acordo com a Agência Fapesp, a partir da colaboração com cientistas franceses do Centre Nacional de la Recherche Scientifique (CNRS), os pesquisadores tem trabalhado no sequenciamento do genoma e no estudo do transcriptoma (conjunto de genes expressos) de espécimes de T. brasiliensis capturados no local do surto.
A reportagem da Fapesp destaca que através da análise de marcadores genéticos do tipo polimorfismo de nucleotídeo único (SNPs, na sigla em inglês), o grupo de pesquisa desenvolveu estudos de genética de população para entender os processos de especiação e adaptação nesse grupo de insetos. O trabalho tem sido realizado no âmbito do Programa São Paulo Excellence Chair.
As análises indicam que os domicílios da cidade de Marcelino Vieira foram invadidos por populações silvestres e domésticas de T. brasiliensis, ambas com alta prevalência de infecção pelo T. cruzi. O cenário, segundo Almeida, é propício para a ocorrência de novos surtos.
Os pesquisadores identificaram que 52% dos barbeiros silvestres capturados e 71% dos insetos domésticos estavam infectados pelo protozoário. A alta prevalência da infecção nos espécimes silvestres e a ocorrência de duas linhagens parasitárias diferentes são fatores que, na avaliação dos cientistas, ameaçam os esforços de controle da doença.
“Na região do semiárido brasileiro, sobretudo onde ocorrem os surtos, é preciso ter uma compreensão mais precisa sobre os elementos envolvidos na cadeia ecoepidemiológica, pois o risco de infecção pode estar mudando. Fatores socioeconômicos, comportamentais e climáticos podem exercer influência crucial na biologia das espécies de vetores e de parasitas”, explicou Carlos Eduardo de Almeida, professor do instituto de Biologia da Unicamp e coordenador do projeto.
Bahia Notícias