O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou os apoiadores para uma manifestação na Avenida Paulista, região central de São Paulo, na tarde deste domingo, 25, e parece que foi atendido. O público começou a chegar ainda durante a manhã com bandeiras e camisas do Brasil, além de mensagens de apoio a Israel –na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou o conflito na Faixa de Gaza com o Holocausto e causou polêmica.
Aos gritos de ‘Eu vim de graça’, os apoiadores de Bolsonaro tentam se desvincular do ato golpista de 8 de janeiro, quando vários empresários e políticos foram alvos da Polícia Federal por terem financiado a destruição da sede dos Três Poderes, em Brasília (Distrito Federal).
A manifestação convocada por Bolsonaro servirá como teste de força do bolsonarismo após as investigações da Polícia Federal apontarem o ex-presidente como mentor da tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro aposta na foto de uma multidão diante de seu palanque para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), fustigar o Palácio do Planalto e mandar recados de que sua eventual prisão não será aceita sem convulsão social.
Trata-se de uma estratégia arriscada, que pode agravar sua situação na Justiça. O ex-presidente está inelegível até 2030 e é alvo de oito inquéritos na Corte: de fake news sobre urnas eletrônicas a ataques golpistas; da venda de joias do acervo da Presidência a denúncias de interferência na Polícia Federal.
Organizadores do ato na Paulista preveem o comparecimento de 500 mil a 700 mil pessoas. Desde sexta-feira há caravanas de ônibus fretados saindo de várias regiões do País.
No Planalto, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que a manifestação será grande e acham fundamental definir, o mais rápido possível, uma série de ações para derrotar o bolsonarismo nas disputas deste ano das principais capitais, como São Paulo. O movimento é visto como decisivo para impulsionar a campanha da reeleição de Lula, em 2026.
Ministros do STF não vão tolerar ofensas
Embora Bolsonaro diga que o protesto vai ser pacífico, “em defesa do estado democrático de direito”, até mesmo seus aliados temem o acirramento dos ânimos e o tom de revanche na avenida. Ministros do STF, por sua vez, afirmam nos bastidores que todos os discursos ali serão escrutinados e nenhuma ofensa à Corte passará em branco, sem punição.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro abrirá o ato político com uma oração. Evangélica, Michelle pedirá proteção ao Brasil, do alto do carro de som. Dois trios elétricos ocuparão a Paulista.
Pelo script traçado, haverá execução do Hino Nacional e o único governador a falar será Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, possível herdeiro do ex-presidente na eleição de 2026 ao Planalto. Além de Tarcísio estarão presentes os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Apoiado por Bolsonaro na campanha por um novo mandato, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também comparecerá, apesar de secretários municipais e dirigentes do MDB não esconderem a preocupação com a vinculação da imagem dele a pronunciamentos antidemocráticos. A lista das confirmações de presença inclui, ainda, 106 deputados federais, 17 senadores e mais de 100 deputados estaduais, prefeitos e vereadores.
“É uma vergonha ver governadores e prefeitos, que têm responsabilidade institucional, participando de uma manifestação contra a democracia e a legalidade. Que medo eles devem ter do Bolsonaro, das coisas erradas que só ele deve saber, para obedecer ao comando do inelegível”, escreveu a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, em seu perfil no X (antigo Twitter). “O ato de domingo não tem nada de defesa do estado democrático de direito. É mais uma ameaça de Bolsonaro às instituições e uma afronta à Justiça, a quem ele está prestes a ter de prestar contas”, completou.
O último discurso do dia caberá ao ex-presidente, que vê o cerco se fechar contra ele e militares do seu círculo de amizades depois de diligências da Polícia Federal indicarem sua participação na trama golpista. Bolsonaro falará sobre seu governo, baterá na tecla de que sofre “implacável perseguição” do Judiciário e, de acordo com interlocutores, traçará um futuro sombrio para o País sob o comando de Lula.
Em 7 de setembro de 2021, Bolsonaro aproveitou um ato de comemoração da Independência do Brasil, na Paulista, para chamar de “canalha” o ministro do STF Alexandre de Moraes – relator das ações contra ele – e avisar que não cumpriria mais suas ordens. Se esse tom for usado agora, com ataques ao Supremo, o ex-presidente poderá ser preso.
‘Democracia não é paz de cemitério’, diz Caiado
“Eu não vejo afronta à democracia com o povo na rua”, disse Caiado ao Estadão. “Democracia não é paz de cemitério. Não estamos avalizando nada no sentido de agressão. Se o ex-presidente consegue fazer essa mobilização para dar as suas explicações, é importante que o faça.”
Caiado quer ser candidato à Presidência em 2026 e deseja o apoio de Bolsonaro, embora muitos o vejam como um cabo eleitoral tóxico. “Não há qualquer desconforto. O meu eleitor é e sempre vai ser conservador”, resumiu o governador, que prega a união da direita.
Informado de que ministros do STF vão monitorar os discursos do protesto na Paulista, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), mostrou estar pronto para o embate. “Quer dizer que vivemos numa ditadura?”, provocou.
Aliado do pastor Silas Malafaia – um dos organizadores do protesto deste domingo -, Sóstenes afirmou que “ponderações” feitas por convidados a usar o microfone “devem servir para os magistrados refletirem, deixando de atacar” o estado democrático de direito.
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do Portal Terra. Com informações do Estadão Conteúdo