Dor, ardência ao urinar e corrimento podem ser sinais da gonorreia — DST (doença sexualmente transmissível) que a cada ano infecta 78 milhões de pessoas, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Apesar de curável, se não for tratada, a DST pode causar infecção nas articulações, nos gânglios e em vários órgãos do corpo — nas mulheres, por exemplo, pode atacar o útero, levando até à infertilidade.
O infectologista e diretor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Marcos Antônio Cirillo, explica que a gonorreia é uma infecção provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, que atinge o órgão sexual tanto de homens como das mulheres. “A doença é transmitida pelo contato com a secreção por relação vaginal, anal e oral”.
De acordo com o médico, caso a pessoa contraia a doença, os sintomas aparecem em até dez dias. Porém, na maioria dos casos, em 24 horas a bactéria já se manifesta no corpo. Os sintomassão diferentes para cada sexo, diz o especialista.
— O homem acorda com o que nós chamamos de gota matinal: tem dor para urinar e corrimento. Já a mulher sente dor para urinar, tem corrimento amarelado que, muitas vezes, acham que é normal. A mulher pensa que vai menstruar, e não percebe que já pode estar com a infectada com a gonorreia.
Caso a mãe esteja infectada, a doença também pode ser transmitida para o filho na hora do parto no momento da passagem pela vagina. A transmissão da gonorreia se dá pelo contato com corrimento contaminado com a bactéria. A doença pode causar cegueira na criança, explica Cirillo.
Segundo o médico, pessoas que contraem gonorreia também têm mais chance de serem infectadas pelo vírus da Aids, já que “qualquer infecção sexualmente transmissível diminui a resistência do corpo humano”.
— As feridas facilitam a penetração do vírus da Aids naquele tecido, indo para o sangue que pode desenvolver uma infecção.
Mulheres correm mais risco
O especialista da SBI também alerta que mulheres que têm relações sexuais com homens infectados também têm mais chance de contrair a doença do que homens que têm relação sexual com mulheres infectadas.
— Durante relação [sexual] com uma mulher infectada, o homem tem 20% de chance de contrair gonorreia, já a mulher chega a ter 50% de chance de adquirir a doença se tiver relação com um homem infectado.
Diagnóstico
Para realizar o diagnóstico, Cirillo explica que o médico avalia cada paciente levando em consideração as últimas relações sexuais e o aparecimento de sintomas. Além disso, analisa as características da secreção, verifica se pessoa tem feridas no genital, e depois, “se ainda tiver dúvidas com relação ao diagnóstico, pode pedir um exame de sangue ou um do próprio corrimento”.
É possível tratar!
Atualmente, há duas possibilidades de tratamento da gonorreia: com antibióticos administrados via oral (comprimidos) e com injeções. Porém, de acordo com especialista, o tratamento deve ser feito também no parceiro da pessoa infectada.
— Essa é a recomendação da OMS. Mas, muitas vezes, nós não conseguimos. Não adianta tratar de uma pessoa, e ela ter pegado do parceiro. Na semana que vem, ela pode contrair a bactéria novamente.
Caso a doença não for tratada, a gonorreia pode atingir outras partes do corpo, alerta Bolos: “Assim como qualquer outra doença sexualmente transmissível, pode causar infecção no útero e nas trompas, que leva a infertilidade, nos gânglios, nas articulações como cotovelo, joelho, porque a bactéria vai se espalhando pela corrente sanguínea. Mas apesar de ser um doença grave e trazer complicações, nós não registramos nenhum caso de morte, é pouco provável”.
O que é a supergonorreia?
A gonorreia é uma doença antiga. Foi descoberta em 1879, e agora está criando resistência aos antibióticos. O que significa que ela está se fortalecendo. Até agora foram detectados três casos intratáveis por causa da resistência da bactéria aos medicamentos, um no Japão, um França e outro na Espanha.
De acordo com Cirillo, apesar da bactéria ainda ser tratada com antibióticos antigos, se não houver uma mudança tanto dos medicamentos quanto da consciência da população, ela vai se tornar uma doença intratável.
— Hoje existem novos medicamentos que estão sendo estudados, mas como antigamente a gonorreia não era uma doença como o HIV ou a hepatite C, que tiveram milhões de reais investidos em pesquisa, os estudos de novos tratamentos não avançaram com tanta rapidez ou eficiência. Ainda hoje, a bactéria pode ser tratada com antibióticos antigos, mas se não houver uma ação para combater a gonorreia, a possibilidade é que ela se torne uma doença intratável, como aquelas bactérias de hospital, a KPC.
Prevenção
A única maneira segura de prevenir a gonorreia é com sexo seguro, ou seja, com preservativo, segundo a OMS. Cirillo cita que existe um estudo em andamento na Nova Zelândia que mostra que a vacina para meningite tipo B poderia diminuir as chances de as pessoas contraírem a gonorreia, mas ainda não existem provas de que a vacina realmente seja eficaz.
R7