“Filho de peixe, peixinho é”, “Quem sai aos seus não puxa aos alheios”, alguns ditos populares definem exatamente quem é Armando da Costa Macedo, conhecido como Armandinho, filho de Osmar Macedo um dos criadores do trio elétrico. O menino herdou do pai o gosto pela música, e como um bruxo colocou num caldeirão uma mistura de Mozart com frevo, uma pitada de rock, acordes do bandolim e do pau elétrico e assim disseminou a guitarra baiana pelo mundo a fora. Como disse Moraes Moreira, “Quando Armandinho toca, a gente se toca da diferença que há entre o talento e o gênio” e ponto final. Leia a entrevista.
No momento em que o Tropicalismo completa 50 anos, Moraes Moreira faz 70 anos e o documentário Axé é sucesso nas telas dos cinemas, como você vê a evolução do carnaval?
Tropicalismo, 70 anos de Moraes Moreira… Tudo a ver com a Bahia e a música do Carnaval São temas que valorizam a nossa festa com representatividade e autenticidade. O sucesso do documentário Axé, o reconhecimento público, é prova da importância e presença artística da Bahia no cenário nacional e mundial. Esses temas devem ser a nossa trilha evolutiva, não precisamos importar músicas de outras regiões para o nosso carnaval, isto é um crime cultural.
Você fez um comentário sobre o carnaval de blocos e grandes trios elétricos. O que sente mais falta do carnaval antigo, da época do seu pai?
Pra quem viveu tantos carnavais, tempo de uma linguagem singular e característica com o som trieletrizante da guitarra baiana muita coisa mudou. Eu e meus irmãos demos o ponto de partida em 1974, quando começamos a transformar o nosso trio numa banda com contra baixo e bateria, com intervenções do primeiro cantor, que foi Moraes Moreira, a partir daí o trio elétrico passa a revelar grandes artistas, variações rítmicas, renovando a cada ano a música do carnaval, uma explosão musical e muito representativa do nosso povo. Surgem levadas percussivas genuinamente baianas que encantam o mundo. Por outro lado, o carnaval empresarial que loteou as ruas de forma jurídica e com total apoio dos governantes da época, joga trios independentes e blocos afros para escanteio, o que é prejudicial até os dias de hoje pelo pouco espaço que se dá ao carnaval cultural nas ruas e na grande mídia. Os mesmos empresários hoje desprezam grande parte desses artistas que lhes deram tanto lucro, trocando-os por artistas que mal conhecem a nossa terra, muito menos o nosso carnaval. Uma atitude preocupante desde já…
Salvador foi considerada a cidade da música, para você que aperfeiçoou o pau elétrico o que este título significa?
Salvador Cidade da Música, mais do que justo, é uma realidade. Somos um povo festeiro, e festa requer música, músicos, uma coisa leva à outra. É uma tradição antiga termos grandes representantes baianos na musica brasileira, e mundo a fora. Uns nascem em berço de ouro, nada contra, mas nasci no ninho da música, obrigado meu Deus! Em casa desde que me entendo por gente, conheci e me familiarizei com esse instrumento elétrico, já maciço. Me encantei desde pequeno, assim como todo o povo que seguia pelas ruas aquele som nas cornetas do pequeno caminhão chamado “Trio Elétrico”, nos anos 50. Era o cavaquinho elétrico do velho Osmar substituindo os metais dos frevos pernambucanos, tocando como um Jimmi Hendrix da sua época. Alucinava os foliões e criava ali uma escola musical fazendo todos os seus seguidores que passaram a imitar o mesmo tipo de caminhão elétrico a copiar aquela forma inovadora de tocar o seu instrumento. Ele foi o meu grande mestre, e esse formato musical que ele estabeleceu com Dodô, todos seguiram piamente até modificarmos nos anos 70, já pelas nossas influências musicais.
E a guitarra baiana?
Esse instrumento misto de cavaquinho e bandolim à princípio com quatro cordas que transformei na minha guitarra em meados dos anos 60. Pedi a Dodô, que era o grande arquiteto dessa eletrônica, pra fazer um pra mim nos mesmos moldes das guitarras dos Beatles. Gravei com meus irmãos os primeiros discos do trio e a percebi minha guitarra. Foi quando falei: “essa guitarra é baiana”, e assim coloquei na ficha técnica do disco. Era o nome que faltava. Em 1983 desenhei a Guibai de cinco cordas e encomendei com um luthier de São Paulo. Assim ela se estabeleceu como um nôvo instrumento musical. Hoje faço a minha Guibai com Elifas Santana que faz a melhor guitarra baiana do mundo, e acrescento modificações a cada tempo. Guitarra baiana e bandolim de 10 cordas são como filhos pra mim.
Você já tem 53 anos de carnaval, como se prepara para essa época? Ainda dá aquele friozinho na barriga?
Na verdade em 2017 completo 54 carnavais, visto que o meu primeiro foi em 1964. Não diria um “friozinho na barriga”, mas, a expectativa de fazer o meu melhor, diante de tantos e grandes artistas.
(Da SecultBA)