Apesar da ‘democratização’ do mercado da música e as oportunidades geradas por plataformas de streaming, redes sociais, YouTube e SoundCloud, a carreira do músico independente ainda é repleta de entraves e desafios.
Da gestão de carreira ao pensamento estratégico, a produção autônoma exige criatividade, disciplina, dedicação, estudo, tempo, dinheiro e, muitas vezes, algum bocado de sorte. Mesmo com as oportunidades geradas pelos ambientes digitais, a concorrência – ainda que em diferentes níveis – com artistas nacionais e grandes gravadoras, dificulta a entrada em plataformas especializadas, rádios e playlists mais acessadas.
Entre as dificuldades encontradas, acesso à grande mídia para divulgação do trabalho, ausência de estrutura para fazer shows e lives mais profissionais e ausência de capital são apontadas como principais problemas, segundo Mateus Aragão, músico da Banda Avenida.
“No início você tem que fazer tudo, mas a capitalização, sem dúvidas, é uma dificuldade a ser superada. O dinheiro está longe de ser a solução, mas ajuda muito a se profissionalizar. Assim como qualquer empreendimento, um projeto musical precisa de recursos financeiros para existir. Por mais que o acesso à tecnologia tenha ajudado todo o processo, ninguém sobrevive de likes. No final do dia, se você não conseguir ganhar dinheiro para pagar suas contas com o que gosta de fazer, vai ter que trabalhar com o que não gosta para poder fazer o que gosta”, explica Mateus.
Exigidos à responsabilidade por todas as etapas da cadeia produtiva, desde a composição até a divulgação do ‘produto final’, aproveitar as competências dos integrantes da banda – ou até de amigos apoiadores – acaba sendo uma estratégia para se lançar e sobreviver ao mercado. “Como quase tudo na vida, existem pontos positivos e negativos. O positivo é que ‘a união faz a força’. O ponto negativo é que nem tudo é como você quer’, desabafa o músico.
Acontece que, com o advento da pandemia do novo coronavírus, as dificuldades enfrentadas pelos artistas aumentaram. A paralisação de eventos no mundo inteiro, o fechamento de espaços de shows e a dificuldade em engajar público e patrocinadores para as lives, fez com que os artistas independentes precisassem se reinventar.
“Precisamos nos adaptar à distância imposta pela necessidade do isolamento e continuar produzindo. Foi isso que fizemos. Não paramos. Dentro das nossas limitações, continuamos compondo, nos reunindo em ambiente virtual, pré-produzimos e gravamos músicas, mantivemos reuniões fixas para discutir música e então, quando a Aldir Blanc apareceu, já tínhamos muita coisa elaborada”, destaca Faya, que teve o financiamento para produção e lançamento do primeiro álbum da Banda Avenida contemplado via edital.
Gravado e produzido em casa, o álbum é uma prova de superação em meio à pandemia, assinado de forma coletiva pelos quatro integrantes da banda, e a participação de Vinny Mathias na percussão, Guga Meyra no cavaquinho, Edcity no single 1,5 Kg, auxílio técnico de Matheus Nasce nas gravações de vozes no Realiza Estúdio.
Para projeto gráfico do álbum Av., a Avenida aposta na estética urbana de Salvador, explorando as texturas do hip hop unidas às cores vibrantes. Para isso, foram utilizadas colagens, fotos e elementos gráficos que caracterizam o cotidiano soteropolitano.
Incentivando o reconhecimento de artistas independentes, Mateus lembra a importância da renovação artística. “O artista independente e inexpressivo de hoje é quem vai movimentar a cultura amanhã. Um breve olhar na trajetória dos artistas que admiramos revela que ninguém cresceu sozinho, sem incentivo/ajuda. Dos Beatles a Bob Marley, de Gil a O Rappa”, conclui.
Para gravação do álbum, a Banda Avenida tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Sobre a Avenida
A Banda começou com o encontro entre dois irmãos de Jequié, um soteropolitano e um feirense. Mateus Aragão, Filipe Pires (Piratas F&M), Emanuel Prado (Xirita) e Jefferson Almeida (Faya), ingressaram juntos no curso de música e tecnológica da associação fundada por Carlinhos Brown, a Pracatum. A partir daí, descobriram elementos de inspiração em comum e decidiram se juntar para fazer música. O nome “Avenida” surge da vivência de Faya no bairro de Pau da Lima, onde a Avenida Gal Costa divide dois lados em guerra. Moradores de um lado quase não passam para o outro. No entanto, na Avenida os conflitos são deixados de lado, e todos convivem pacificamente. A avenida é a zona de diálogo entre o lado que “A” que não conversa com o “B”, onde reina a paz e o respeito às diferenças. Desta forma, Avenida significa a esperança de dias melhores.