Assistidos do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro do Garcia participaram nesta terça-feira (10) de um momento de celebração da chegada do Natal e de um novo ano. A ocasião foi marcada por uma série de atividades culturais e de entretenimento, incluindo bingo, karaokê e um varal de poemas, que proporcionou aos presentes uma chance de exibir suas habilidades poéticas.
A festa ganhou um brilho maior com as apresentações de uma banda composta por assistidos de outro Caps, localizado em Pernambués, que trouxe muito batuque ao evento, revisitando clássicos do Axé Music. O encontro, que acontece todos os anos, reuniu cerca de 60 usuários do equipamento. Ainda durante a confraternização, os participantes tiveram a oportunidade de mostrar seus talentos, sob os olhares atentos dos colegas e dos profissionais dedicados ao cuidado da saúde mental. Em um dos momentos, por exemplo, o microfone ficou à disposição de todos, permitindo que as pessoas se expressassem livremente.
O professor de Filosofia aposentado Antônio Milton Almeida, de 60 anos, é acompanhado pela equipe do Caps há quase dois anos. Ele destacou que o momento é de confraternização com os demais assistidos. “É importante dar sentido a momentos como esse. Traz alegria e consciência. O Caps surge na luta, como reação aos manicômios e à estrutura de poder, portanto, essa festa tem vários sentidos e nós, como usuários, somos sujeitos dessa história”, comenta.
Felipe Viana Seriaco, de 38 anos, é acompanhado há 12 anos pelo Caps. Ele, que trabalhava como vendedor ambulante, comentou sobre a importância de momentos de interação com outros assistidos. “Cheguei aqui em setembro de 2012. É importante ter festas como essas, momento de alegria e uma festa como o Natal. Todo esse tempo aqui foi de muito aprendizado”.
O psicólogo Clériston Costa enfatizou que o Caps é um serviço da Rede de Atenção Psicossocial que possui uma grande preocupação em oferecer cuidado em regime aberto, tendo como principal estratégia o cuidado coletivo, principalmente através de oficinas e grupos. “Mais do que tratar doenças, nosso foco aqui é a promoção da saúde. Momentos como este são oportunidades de conexão, de estarmos presentes uns para os outros. É uma produção de saúde não apenas para os usuários, mas também para os trabalhadores e os familiares”, comentou o profissional.
Citando como exemplo a banda formada por usuários do Caps de Pernambués que deu ritmo à celebração, Costa disse ainda que a preocupação principal da equipe é mostrar que o serviço psicossocial “tem amplitude, é aberto para a cultura e para a arte”.
“Queremos evitar o preconceito e o estigma. Nosso objetivo é superar isso. Não se trata apenas de remissão de sintomas ou uso de medicação, mas de promover direitos, cidadania e a autonomia possível para cada indivíduo. Eventos como este ajudam as pessoas a lidar com o mundo, com suas diferenças e singularidades. Muitos usuários, que em consultas ou grupos não se expressam, aqui se movimentam, dançam, interagem e riem. É uma forma de sair do isolamento e estabelecer conexões de maneira nova e significativa”, completou o psicólogo.
Fotos: Lucas Moura / Secom PMS