Prestes a estrear seu maior papel de destaque na TV em “Amor de Mãe”, próxima novela das nove da Globo, a atriz e cantora Jéssica Ellen falou, em entrevista ao Globo, sobre racismo, novembro negro e defendeu o candomblé, religião em que se iniciou há pouco mais de um ano.
“A primeira vez que fui à escola com o cabelo natural, todo mundo riu. Quando a Taís Araújo fez comercial de beleza, tudo mudou para mim. Pensei: ‘Caraca, agora não preciso mais machucar meu cabelo, porque estou alisando há tanto tempo?’. Para ser pioneira, como Taís e Zezé ( Motta ), tem que ter coragem de bater de frente até com você mesma no espelho. Falar: ‘Cara, você é linda!’. Mas demorou, viu?”, confessou.
Na trama escrita pela baiana Manuela Dias, que estreia no próximo dia 25, ela será par de Chay Suede, mas confessou sentir falta de galãs negros na TV. “O Chay é ótimo, joga junto. Eles vão viver uma relação interracial e acho que isso nem é uma questão. O fato é que sinto falta de casais pretos protagonistas, como em “Mister Brau”. Por que foi um sucesso absoluto? Porque a gente precisa se ver representado”, apontou.
“A gente precisa de galãs pretos para que não seja uma questão. Espero o dia em que atores sejam escalados só pelo talento. Ainda catamos quantos pretos têm numa produção. Mudou, mas ainda é pouco. Cresci vendo Taís Araújo e Camila ( Pitanga ). Hoje tem Aline Dias, Luellem de Castro, Jeniffer Dias. Mas ainda não são todas protagonistas. Outras atrizes da minha geração, brancas, já começaram como protagonistas. Eu demorei a ter um papel de destaque”, avaliou.
No papo, ainda ironizou sobre como acontece algumas abordagens durante as ações do Novembro Negra. “A galera lembra que preto existe. É tanto convite pra show… Para acalmar o ego e dizer que é consciente? Sei que sou preta o ano inteiro, desde que nasci. As pessoas precisam sair da zona de conforto. É desconfortável explicar o óbvio, dizer ao diretor que não posso fazer a cena daquela maneira porque corrobora com tal ideia”, lembrou.
“O racismo não pode mais ser um assunto só de preto. Os brancos precisam se questionar. ‘Será que quando o menino atravessou a rua e segurei a bolsa fui racista?’. Foi, sim! Todo mundo quer falar que teve uma mãe preta. Sua mãe preta era a minha mãe, que se desdobrava em duas, deixava a caçula com a irmã mais velha para levar o sustento para a casa”, contextualizou.
Por fim, falou de sua iniciação ao candomblé. “Quando cheguei no terreiro e ouvi aquelas canções em iorubá, comecei a chorar. Tive a sensação de estar me descolonizando, como se estivesse pegando um navio de volta à África. Tem gente que fala sobre o sacrifício animal, mas e o peru de Natal? Porque só o frango sacrificado e comido no candomblé é demonizado? Não quero ser atacada por uma escolha minha que não influencia a vida de ninguém”, defendeu-se.
Bahia Notícias