A recomendação de uso de cirurgia bariátrica, antes restrita, vem avançando no país e pode agora favorecer diabéticos e hipertensos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) vota até o próximo mês resolução que torna mais fácil a redução de estômago no caso de pessoas com diabete tipo 2. Já um estudo do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, liga o procedimento à eficácia no controle da pressão de obesos. O texto que deve receber aval do CFM prevê que pacientes com diabete possam fazer a cirurgia com um Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 34 quilos por metro ao quadrado. Atualmente, o IMC mínimo exigido para permitir o procedimento é de 35. A mudança atende a padrões já adotados nos Estados Unidos e em vários países da Europa e tem como principal objetivo não a redução do peso, mas o controle da diabete. Justamente por isso, médicos se referem agora à cirurgia não como bariátrica, mas metabólica. “A experiência tem mostrado que pacientes com diabete tipo 2 submetidos à cirurgia têm uma queda na glicemia antes mesmo da perda de peso”, explicou o presidente em exercício do CFM, Mauro Luiz Britto Ribeiro. O médico afirma não ser possível falar em cura, mas em controle. “Os estudos acompanham pacientes que fizeram a cirurgia há menos de dez anos. Podemos falar, por enquanto, nos efeitos a médio prazo”, explicou. Hoje, a técnica já é feita no país, mas em caráter experimental. Com a aprovação da resolução, a cirurgia poderá ser feita desde que haja a recomendação de dois médicos endocrinologistas. Há ainda outras exigências: o paciente tem de ter entre 30 e 70 anos, apresentar diabete há dez anos e não ter obtido sucesso com nenhum tratamento clínico. “Esse é um procedimento de risco, de alta complexidade”, observou Ribeiro. Além disso, o paciente não pode ser dependente de drogas, abusar de bebidas alcoólicas ou apresentar depressão grave. Também é contraindicada a técnica caso se constatem problemas cardiovasculares no paciente. Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini explica que o procedimento não é novo, mas foi necessário aguardar que a literatura médica se tornasse mais robusta para que ele pudesse passar a ser indicado. Cid Pitombo, pesquisador e coordenador do programa estadual de cirurgia bariátrica do Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio, observa apenas que o procedimento não pode ser banalizado. “Meu ponto de vista crítico é se esse parecer pode fazer com que as pessoas comecem a buscar profissionais sem muito conhecimento e treinamento.” O texto do CFM prevê regras claras para o hospital onde a cirurgia deverá ser realizada. O estabelecimento precisa ser de grande porte, ter equipe de plantonistas por 24 horas, além de UTI. O parecer ainda cita especificamente duas técnicas para serem usadas na cirurgia metabólica. O presidente em exercício do conselho acredita que eventual liberação poderá beneficiar parcela significativa de pacientes. Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde mostra que 18,6% da população brasileira é obesa e 53,8% tem excesso de peso.
Bahia Notícias