Como uma criança que estava recebendo um brinquedo novo, David Neeleman, o Fundador da Azul Linhas Aéreas, circulava pelo jato Embraer E195-E2 que a empresa acabará de receber nesta quinta-feira (12) para operar suas rotas no Brasil.
Ao lado dele, John Rodgerson, CEO da Azul, parece contaminado pelo entusiasmo, que fica mais claro quando os dois falam sobre o futuro da companhia.
Com a recente entrada na ponte-aérea, uma previsão de contratar ao menos mais 2.000 pessoas e a previsão de receber, ainda neste ano, ao menos mais cinco aeronaves Embraer, das 51 encomendadas, a Azul dá sinais de que espera, em um curto prazo, uma retomada de crescimento do setor de aviação no Brasil, mas sem deixar de cobrar do poder público melhores condições para esta retomada.
Em uma entrevista ao R7, David Neeleman e John Rodgerson falaram sobre as perspectivas da aviação para o Brasil, do crescimento previsto da Azul Linhas Aéreas e o que esperam do poder público para ampliar a operação no Brasil.
Qual a perspectiva da Azul para aviação nos próximos anos?
Neeleman: Acho que o setor de aviação vai voltar a crescer e logo teremos mais gente voando, e queremos estar preparados para isto.
Slattery: O fato de o Brasil não estar em boas condições exige que nós façamos mais investimentos. Por isso, estamos comprando aeronaves mais econômicas, para tentar oferecer tarifas mais baixas, para mais gente voar, para dar mais oportunidades para as pessoas voarem e aquecer este mercado. O Brasil vai voltar a voar alto.
Qual é o maior entrave do setor de aviação para este crescimento fluir melhor?
Neeleman: Para um aeroporto, a gente precisa de bombeiros, raio X, uma pista que não vai apresentar problemas quando começarmos a voar, então temos que focar nos aeroportos, melhorar e manter as condições deles.
A Azul está tentando ajudar no que é possível, muitas cidades e estados não sabem como preparar bem seus aeroportos, mas temos uma equipe trabalhando nisto, tentando dar uma consultoria para que estes locais possam ter condições de receber voos de forma segura e com frequência.
Slattery: Nós mandamos uma lista para o ministro Tarcísio de Freitas [Infraestrutura], onde queremos operar e ampliar os voos, mas tem muito aeroporto que fecha no Brasil desnecessariamente. Então tem que investir e botar IFR (tecnologia que permite o pouso e decolagem de aeronaves mesmo com mau tempo) nestes aeroportos, tem outros que precisam de melhorias de segurança, de melhorias na pista. Acho que o país tem condicões de investir mais em seus aeroportos para propiciar que as companhias operem neles.
Eu, inclusive, falei para alguns governadores, se eles investirem em aeroportos, eu vou trazer mais aeronaves. O aeroporto de Sorriso [Mato Grosso], por exemplo, está fechado, está lá com um problema na pista, ali é onde o Brasil está crescendo e não estamos voando para lá. Temos o Santos Dumont que fecha constantemente por causa do mau tempo, temos tecnologia para resolver isto, mas precisa de investimento.
E como está a política para o combustível de aviação?
Neeleman: Entendemos que o custo do combustível é mais alto por conta da logística, mas não podemos ter um ICMS (Imposto de Circulação Sobre Mercadorias e Serviços) de 25% em cima disto, não dá para voar num estado que mantém isto, então é algo que precisa mudar. E a receita que estes estados podem perder, baixando este imposto, eles recuperam com a atividade ecônomica se tiver mais voos para lá. Realmente é algo que precisa mudar.
Slattery: Sempre vai ser nosso maior custo, mas ficamos contentes com a decisão do governador João Doria [São Paulo], que baixou o ICMS (Imposto de Circulação Sobre Mercadorias e Serviços) de 25% para 12% e que pela primeira vez, em anos, estamos crescendo no estado de São Paulo e ampliando a nossa oferta de voos. Em Recife, o governador fez a mesma coisa, e nós montamos um grande hub [concentração de voos] lá para voar para mais lugares e com mais frequência.
E as tarifas, há previsão de baixar?
Neeleman: Acredito que, se os estados ampliarem [a redução] do ICMS e com a melhora da economia, vamos poder melhorar as tarifas. Também estamos investindo para ter aeronaves que tenham um custo para voar menor, certamente o Brasil vai voltar a voar mais.
Slattery: A tarifa tem muito a ver com o dólar, que hoje vale R$ 4,15, e 65% de nossos custos são dolarizados. Isso precisa melhorar. Mas também precisamos aumentar a demanda para baixar. Se a economia melhorar, a tarifa pode baixar, inclusive, porque nosso maior custo não é só combustível, é assento vazio. Então, se melhorar a demanda, tudo muda.
Novo avião
Com a chegada da nova geração de jatos da Embraer, a Azul planeja voar para novos destinos. Nesta quinta, a empresa recebeu a primeira de 51 aeronaves que encomendou, outras cinco devem ser entregues ainda neste ano.
“É a maior aeronave comercial que a Embraer já produziu. Os passageiros vão adorar o novo interior, e as companhias aéreas vão se impressionar com a extraordinária eficiência operacional. O jato é, sem dúvida, ideal para o modelo de negócios de tarifas reduzidas da Azul”, afirmou John Slattery, Presidente & CEO da Embraer Aviação Comercial
A Azul operará o E195-E2 na configuração de classe única, com 136 assentos, em várias rotas domésticas e internacionais. A primeira rota que irá operar deve ser para Brasília.
“Nos últimos 10 anos, a Azul revolucionou o mercado de aviação brasileiro. Ajudamos a dobrar o mercado doméstico, incluindo serviço aéreo a diversas regiões, cidades e comunidades que nunca tiveram voos antes, tudo graças às aeronaves Embraer E195-E1. Agora, com o E195-E2, estamos prontos para dar início a um novo capítulo na história da aviação brasileira. Não poderíamos estar mais orgulhosos de voar ainda mais alto com uma aeronave construída com tecnologia e inovação brasileiras”, disse David Neeleman, fundador e presidente do conselho da Azul.
A aeronave promete uma redução de consumo de combustível de cerca de 25% se comparado com o modelo anterior dos E195 e os custos de manutenção são 20% menores.
A Azul prevê ainda que, para cada aeronave nova em operação, serão gerados cerca de 80 empregos diretos e outros 500 indiretos. A empresa afirmou ainda que todas as novas aeronaves também devem passar a oferecer internet a bordo, a preços ecônomicos.
R7