Fábrica situada em Serrinha já zerou sua conta de luz desde que instalou usina de energia solar com geradores fotovoltaicos
Diariamente, das 8h às 17h30, uma marmoraria na cidade baiana de Serrinha produz peças de mármore e funciona também como loja. Até o mês de janeiro último, R$ 1300 era o valor médio mensal gasto com conta de luz pelo estabelecimento. Mês passado, no entanto, o empresário Danilo Teixeira da Silva passou a pagar R$ 63 reais à Coelba. Agora é o sol a fonte de energia para o seu negócio.
As placas fotovoltaicas foram instaladas no telhado da fábrica, e a conta de energia foi zerada. O valor de R$ 63 é a tarifa mínima de disponibilidade cobrada pela Coelba. O projeto de energia solar responde em 100% o consumo do estabelecimento e, segundo Danilo, houve outro ganho, uma geração de energia equalizada, sem variações, o que evita o desgaste do maquinário, como acontecia antes. “A sobrecarga das subestações da Coelba ocasionava oscilações na geração de energia e isso prejudicava os equipamentos”, reforça.
Na planilha de custos da marmoraria Medd Mármores, o que aconteceu foi a substituição de uma despesa por um investimento. Um valor equivalente ao custo com conta de luz agora é direcionado para as parcelas do financiamento do Banco do Nordeste, por meio do qual a marmoraria pôde contratar os serviços de uma empresa de energia renovável, que executou o serviço num valor total R$ 96 mil, 100% financiado pela linha FNE Sol do BNB, em 120 meses.
A empresa que trouxe essa “luz no fim do túnel” para a marmoraria foi a baiana EcoInova, especializada em engenharia solar. André Brasileiro, seu diretor comercial, explica que o valor de R$ 96 mil contemplou o kit gerador fotovoltaico (equipamentos) e o projeto de energia solar em si, que inclui dimensionamento, registro na distribuidora, instalação e manutenção preventiva e corretiva.
“Ele continuou com um custo fixo que já tinha, sendo que trocou um gasto por um investimento, com a ressalva de que as parcelas do BNB são decrescentes, ou seja, hoje equivalem ao que ele pagava mensalmente em conta de luz, mas em alguns meses já serão menores”, realça.
Para mostrar como o investimento é vantajoso, o empresário da EcoInova faz uma projeção para a marmoraria. “Ele financiou R$ 96 mil que, em 10 anos, vão se reverter numa economia de R$ 99 mil, valor que ele terá deixado de pagar à Coelba. Ao longo de 25 anos, essa economia será de R$ 1 milhão”.
André Brasileiro esclarece que os equipamentos de geração de energia solar têm 10 anos de garantia pelo fabricante. “Além disso, após 25 anos, os módulos instalados devem estar com 80% da sua capacidade de geração de energia, comparada à alcançada no ato da instalação”, diz ele.
Para que isso aconteça, é preciso que o sistema seja instalado a partir da contratação de uma empresa de engenharia qualificada e capacitada para executar o serviço dentro das normas técnicas existentes. “Com as adequações e manutenção corretas, o sistema funciona uma vida inteira”, esclarece Eduardo Brasileiro, engenheiro e responsável técnico da Ecoinova.
“Além da economia e da vantagem da geração equalizada, a energia solar também é uma solução inovadora que dialoga com o conceito de sustentabilidade ao utilizar uma energia limpa, renovável e inesgotável”, conclui satisfeito o empresário Danilo.
Sol brilhou – A atuação da EcoInova e os benefícios conquistados pela marmoraria de Serrinha só foram possíveis graças à resolução 687 de 2016 da ANEEL – complementar à 482 de 2012 -, que trouxe novas regras e parâmetros para a produção de energia renovável no Brasil. Foram mudanças significativas que já fizeram o setor crescer ano passado, encorajando empresas a oferecer o serviço, e usuários a contratá-lo.
Se a resolução normativa de 2012 trouxe como novidade a implantação do sistema de compensação de energia – por meio do qual a energia renovável excedente gerada por uma unidade consumidora passa a ser injetada na rede da distribuidora (Coelba), a qual funcionará como uma bateria, armazenando esse excedente – a resolução do ano passado encurtou o prazo estipulado, agora de 37 dias, para as concessionárias analisarem o projeto e ativarem o registro da unidade consumidora.
A regra encorajou o surgimento de novas empresas baianas no ramo, já que, em paralelo, o Estado da Bahia passou a isentar o ICMS na geração de energia solar de até 75 quilowatts. A Bahia foi o sétimo estado do País a aderir ao convênio 16/2015 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que prevê a dispensa do tributo nos casos de micro ou mini-geração de energia.
Do ponto de vista do consumidor, as novidades também tornaram a energia solar mais atrativa. Uma delas foi “autoconsumo remoto”, segundo o qual os créditos do excedente gerado por uma unidade de energia podem também ser usados para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma distribuidora. O prazo de validade dos créditos, que era de 36 meses, aumentou para 60 meses. “Uma pessoa pode ter um terreno no interior da Bahia e gerar energia para abater na conta de luz do seu apartamento em Salvador”, exemplifica André Brasileiro.
Outra inovação da norma diz respeito à possibilidade de instalação de geração distribuída em condomínios (empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras). Nessa configuração, a energia gerada pode ser repartida entre os condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores. A ANEEL criou ainda a figura da “geração compartilhada”, possibilitando que diversos interessados se unam em um consórcio ou em uma cooperativa e utilizem a energia gerada para redução das faturas dos consorciados ou cooperados.
FNE Sol – Num cenário brasileiro mais que positivo para a expansão de centrais geradoras que utilizam fontes renováveis de energia, uma outra ferramenta veio dar o empurrão que faltava, a linha de financiamento do BNB à micro e à minigeração distribuída de energia elétrica, o FNE Sol, disponível às empresas nordestinas.
O FNE Sol é destinado a empresas de todos os portes e setores, produtores e empresas rurais, cooperativas e associações. Podem ser financiados sistemas completos envolvendo geradores de energia, inversores, materiais auxiliares e instalação. O financiamento pode ser de até 100% do valor do investimento, a depender do porte e localização do cliente.
O valor das parcelas do FNE Sol é equivalente à redução projetada na conta de energia do mutuário após a implantação do sistema de compensação, no sentido de ele não ter um acréscimo mensal de despesa. Pagando em dia, o banco ainda dá um bônus de 15% sobre os juros. A taxa de juros é abaixo da média do mercado.