O celular é essencial na rotina diária, sendo utilizado para diversas finalidades – e na dinâmica das salas de aula não seria diferente. No entanto, o atual desafio das escolas é lidar com uma ferramenta capaz de ampliar o leque de possibilidades de aprendizagem e, ao mesmo tempo, ser grande fonte de distração e queda no desempenho. Por conta dessa complexidade, os debates sobre o uso, limitação ou proibição dos aparelhos têm ultrapassado os muros dos ambientes educacionais.
Recentemente, um projeto de lei (PL nº 25.203/2024) sobre o tema foi enviado à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). De acordo com a medida, que veta a utilização de qualquer dispositivo eletrônico nas escolas da rede pública e privada do estado, o uso durante as aulas dependerá da autorização do professor e apenas com propósitos pedagógicos. Caso o texto seja aprovado, o descumprimento poderá resultar na retirada do aparelho e encaminhamento do aluno à gestão da unidade. A única exceção é para os discentes com deficiência ou problemas de saúde que precisem dos aparelhos.
Apesar da definição do projeto, com argumentos baseados nas orientações Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tempo de tela ideal para crianças e jovens, bem como no exemplo de países que já instituíram medidas restritivas ou de banimento, a pedagoga Silvana Araújo avalia a situação com ponderações. A educadora, também executiva na Rede Inspira de Educadores, acredita que o mais importante é pensar soluções para a questão.
“Entendo que regras devem ser criadas e as leis regulam comportamentos que excedem os limites da convivência e da segurança com intuito de preservar as relações entre as pessoas. No caso das escolas, defendo a proibição do uso na sala de aula, pois considero um espaço de troca, interação e convívio social, aspectos fundamentais para a formação humana. Entretanto, não podemos negar a contribuição eficiente que o uso adequado da tecnologia produz para o desenvolvimento de aprendizagens. Sendo assim, vejo que a utilização controlada e realizada em locais específicos pode ser uma solução interessante para esse conflito”, afirma.
A gestora ainda ressalta que o celular e outros dispositivos facilitam a produção, seja no trabalho ou no aspecto da aprendizagem, contribuindo de maneira significativa na preparação para um mundo digital, aumento do engajamento nas atividades escolares, melhora na comunicação, entre outros benefícios. “Contudo, o uso deve ter uma condução estratégica e planejada de forma que o professor seja o mediador e orientador preferencialmente fora da sala, em ambientes específicos para o seu uso. Isso também ajuda a estabelecer conceitos simbólicos de tempo e espaço para a utilização”, explica.
Prós de medidas restritivas
Em um cenário pós-pandemia, no qual a inserção das tecnologias foi crucial para a continuidade das práticas escolares, os celulares transformaram-se em valiosos instrumentos de acesso ao conhecimento, aprendizagem interativa e desenvolvimento de habilidades digitais. Por outro lado, a OMS alerta que a exposição prolongada a telas prejudica a socialização, concentração e até mesmo a estabilidade emocional das crianças e adolescentes.
Para Silvana Araújo, o equilíbrio é o melhor caminho, uma vez que possibilita o uso seguro, responsável e favorece o próprio ambiente educacional. “Além da interação do estudante a partir de uma ferramenta na qual tem interesse e intimidade, a incorporação estratégica dos dispositivos permite o uso de inteligência artificial na oferta de recursos criativos de aprendizagem e acesso às plataformas com metodologias que entregam relatórios de proficiência individualizados”, pontua.
A executiva reforça que as medidas restritivas, quando tomadas de forma consciente, ainda podem contornar os efeitos considerados negativos do uso nas salas de aula, a exemplo da perda de interação social e desvio do foco nos estudos.
Fonte sugerida: Silvana Araújo, pedagoga e executiva na Rede Inspira de Educadores