Para muitos solteiros Brasil afora, o Carnaval é sinônimo de beijar muito. O problema é que a curtição, às vezes, pode virar dor de cabeça — literalmente. É que os foliões não estão imunes às doenças transmitidas pelo beijo, segundo Paulo Olzon, clínico-geral e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
— Quando uma pessoa está doente, o vírus fica concentrado de forma numerosa na saliva. À medida em que essa pessoa beija e a saliva dela entra em contato com a de outro indivíduo, acontece a contaminação.
Entre as infecções mais comuns nesse período do ano, ganha destaque a mononucleose — não à toa, conhecida também como “doença do beijo”. José Stênio Ponte, otorrinolaringologista da clínica Otorrino DF, de Brasília (DF), diz que existe um aumento de 20% a 30% na incidência da mononucleose infecciosa durante o carnaval.
Os especialistas afirmam que a doença é causada por um vírus que, geralmente, atinge crianças e gera um quadro muito parecido com o de um resfriado. Na adolescência e na idade adulta, entretanto, os sintomas são um pouco mais intensos e incluem dor de garganta, febre, aumento de gânglios e de fígado e baço.
De acordo com Olzon, não existe tratamento específico para a mononucleose, apenas sintomático para as manifestações como dor de garganta ou de cabeça e febre. “Mas, em geral, é uma doença benigna que evolui espontaneamente para a cura. O processo leva de uma semana até mais que um mês, em alguns casos”, diz o médico.
José Stênio Ponte, entretanto, pondera: “Em algumas situações, o fígado inchado pode romper e causar uma hepatite. O baço, caso se rompa, leva a uma hemorragia interna. São raros os casos, mas podem ocorrer. Portanto, caso haja sintomas como dor abdominal — que indica o aumento de volume desses órgãos —, a indicação é repouso absoluto”. Ao menor dos sinais, procure um médico.
Herpes
Outra das doenças que podem ser transmitidas pelo beijo é o herpes simples, que causa as conhecidas feridas e bolhas de aspecto vermelho e amarelado. Só não vale pensar que a infecção acontece apenas nos casos em que as lesões são visíveis, de acordo com Paulo Olzon:
— Normalmente, o vírus se concentra na saliva em quantidade suficiente para a transmissão antes do início do quadro clínico ou quando começam a aparecer os sintomas. A pessoa que tem herpes simples, um pouco antes de surgirem as bolhas, já pode passar a doença para outro indivíduo. No período as bolhas características da doença são mais aparentes, as chances de transmissão também são altas. Quando as feridas já estão secas e com casca, aí a transmissão é baixa.
Olzon ainda conta que o vírus conta com dois subtipos, chamados de herpes 1 e herpes 2. Enquanto o herpes tipo 1 costuma ser associado a lesões nos lábios e na cavidade oral, o herpes 2 é ligado a manifestações nos órgãos genitais. “Mas com as mudanças dos hábitos sexuais e o sexo oral, hoje os dois tipos são encontrados tanto na boca quanto no pênis ou na vagina”, comenta o especialista.
Em todas as situações, não existe tratamento curativo — apenas medicamentos antivirais, como o aciclovir, que amenizam o incômodo gerado pelas feridas até o seu desaparecimento, que leva cerca de uma semana.
— Tanto a mononucleose como o herpes são vírus que o organismo não debela completamente, eles ficam no corpo em forma latente (não se manifestam). Quando a pessoa tem crise de baixa imunidade, ela pode ter uma reativação desses vírus. No caso do herpes, o estresse emocional, a privação de sono ou a exposição prolongada ao sol reativam a doença;
Citomegalovírus
Da mesma família que o herpes e a mononucleose — o grupo é chamado de herpes-vírus —, o citomegalovírus também é transmitido pelo beijo. O quadro inclui febre e dor de garganta e, geralmente, os pacientes cuja imunidade é considerada normal recebem tratamento sintomático. Quem já foi diagnosticado com AIDS, entretanto, precisa tomar cuidado redobrado com a doença, de acordo com Olzon.
— Em quem tem AIDS, o citomegalovírus pode gerar uma série de acometimentos no pulmão, no aparelho digestivo, no sistema nervoso… Nesses casos, também preocupa o quadro ocular: a infecção pode dar uma inflamação na retina que, se não tratada, leva à cegueira. O tratamento é bastante tóxico.
Resfriado, gripe e outras
É importante ainda lembrar que todas as doenças de transmissão respiratória — aquelas que geralmente passam de pessoa para pessoa por meio de tosse ou espirro — também podem ser propagadas pelo beijo. Resfriado, gripe, meningite, catapora e caxumba entram na lista, reforça o infectologista da Unifesp. O tratamento até que os vírus sejam eliminados pelo corpo inclui medicamentos para amenizar os sintomas, além de repouso e hidratação.
No mais, vale manter-se sempre bem alimentado e tomar muita água para revigorar a saúde — especialmente neste período de grandes festas, quando os cuidados com o organismo às vezes são deixados de lado. Ao menor dos sintomas, vá ao consultório médico.
R7