O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, reconheceu neste domingo (19) que créditos liberados pelo governo para enfrentar a crise gerada pelo coronavírus estão represados e disse estudar um instrumento de seguro para acelerar financiamentos.
Um mês após o lançamento de um programa de refinanciamento de R$ 30 bilhões em dívidas com o banco estatal, os pedidos avançaram muito mais em operações diretas do que em indiretas, que são intermediadas por instituições financeiras privadas.
De acordo com Montezano, dos R$ 19 bilhões esperados em refinanciamento em operações diretas, há hoje R$ 9 bilhões já em processamento no BNDES. Em relação às operações indiretas, a expectativa é atingir R$ 11 bilhões, mas houve avanço em apenas R$ 1,5 bilhão.
A dificuldade de acesso aos recursos liberados pelo governo para enfrentar a crise é reclamação constante no setor produtivo brasileiro. Além do dinheiro do BNDES, o governo liberou desde fevereiro mais de R$ 200 bilhões em recursos que os bancos são obrigados a reter, os chamados empréstimos compulsórios.
“Isso é normal porque o sistema bancário hoje todo está com aversão a risco, tem uma insegurança, uma imprevisibilidade maior”, avaliou Montezano, em seminário virtual promovido pelo Itaú BBA, afirmando que o processo precisa “dar uma acelerada”.
Para acelerar esse processo, disse, o banco vem desenvolvendo um instrumento de seguro de crédito, segundo ele um instrumento ainda pouco usado no Brasil mas comum em outros países.
O presidente do BNDES não quis adiantar como funcionaria o seguro, alegando que o modelo ainda está em desenvolvimento. A reportagem apurou que a ideia é ampliar e flexibilizar o FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), instrumento do banco já usado na concessão de empréstimos, que pode receber recursos do Tesouro.
Entre as medidas de flexibilização, está em estudo elevar o limite de garantia dos atuais 80% para até 95% do valor do financiamento. Para cada R$ 1 investido no fundo, o BNDES estima alavancar outros R$ 5 em financiamentos para pequenas e médias empresas, o que poderia beneficiar os setores de turismo, comércio e serviços.
“Quando a gente compara com outros bancos ao redor do mundo, as medidas [emergenciais] são bem parecidas, mas tem um produto que a gente não opera e que lá fora é bem disseminado, que é o produto garantia”, disse, afirmando que com esse seguro o dinheiro “pode chegar na ponta com mais facilidade”.
Além de abrir a possibilidade de renegociações de dívidas, o BNDES já retornou R$ 20 bilhões ao governo federal em recursos do PIS/Pasep, que serão usados para antecipar o resgate de FGTS, e abriu uma linha de crédito para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas.
Agora, diz Montezano, o foco são as grandes empresas que estão sofrendo com a crise, principalmente nos setores aéreo, elétrico, automotivo e o comércio varejista não ligado a alimentos. Para esses, as soluções vão envolver parceria com bancos privados e fundos de investimentos.
Além de empréstimos, as negociações contemplam um pacote de instrumentos financeiros, que incluem debêntures conversíveis e a possibilidade de participação acionária. Montezano defendeu que a participação de bancos privados, além de ampliar os recursos disponíveis, ajuda a estruturar melhor as soluções.
“A gente concluiu que atuar por meio de sindicatos de bancos públicos e privados é muito importante para ter a maior quantidade possível de perspectivas, de visões e opiniões sobre os setores”, disse. “São decisões tão importantes que a gente entende que é melhor ter discussão maior com a sociedade.”
Ele afirmou que espera que as primeiras operações sejam concluídas em maio, mas não deu detalhes sobre quais são as empresas envolvidas. Primeiro grande impactado pela crise, o setor aéreo está em negociações mais avançadas e pede R$ 8 bilhões.
Segundo Montezano, outros setores podem ser incluídos nos esforços para socorrer empresas de grande porte. Ele citou, por exemplo, os planos de saúde, que podem sentir quando for destravada a demanda por procedimentos médicos que está represada enquanto duram as medidas de isolamento.
O presidente do BNDES descartou a oferta de dinheiro a juros subsidiados para grandes empresas. “Quando se fala em grande empresa, não é necessário subsídio de juros, porque o juro está muito baixo. Não é necessário esforço fiscal do governo para apoiar grandes empresas.”
Segundo ele, para se preparar para a retomada da economia após a pandemia, o banco não fará mais devoluções antecipadas de recursos emprestados pelo Tesouro nos anos petistas, como foi prática em gestões anteriores à sua. “A instrução do ministro [da Economia, Paulo Guedes] foi segurar o caixa do BNDES”, disse.
Bahia Notícias