A Bolsa de Valores tem 10.210 contas registradas no nome de menores de até 15 anos, de acordo com os dados de julho deste ano divulgados pela B3. Do total, 5.693 são de meninos (R$ 1,57 bilhão) e 4.517 de meninas (R$ 0,21 bilhão). Juntos, investem R$ 1,79 bilhão em ativos.
De acordo com a B3, a quantidade se refere ao número de CPFs registrados por agentes de custódia e, não necessariamente, a 10.210 pessoas diferentes. As contas até 15 anos representam 0,36% de todos os cadastros na B3 (2.824.239 contas).
Para um menor de idade investir, é necessário ter CPF e abrir uma conta em um agente de custódia. Além disso, a criança ou adolescente também precisa ter uma conta corrente em seu nome, mesmo que conjunta com um adulto, para poder transferir os recursos para a corretora.
O estudante Felipe Molero, de 12 anos, faz parte destas estatísticas e investe em ações, fundos imobiliários e ETFs desde os 10 anos. Molero conta que fez o primeiro aporte com um valor que conseguiu vendendo balas na escola.
Desde então, começou a fazer novas aplicações e criou um canal no YouTube para falar sobre investimentos e educação financeira — chamado Kid Investor. Atualmente, Molero recebe assessoria da Messem Investimentos.
A iniciativa fez com que a mãe e a avó de Molero tirassem parte do dinheiro da poupança para investirem em renda variável. Além da venda de balas, o estudante também já vendeu sucos e livros escolares para conseguir renda.
“Eu acordo umas 5h ou 6h e, até umas 8h, eu vou ler, estudar o mercado”, conta. Das 8h às 15h se dedica às atividades escolares e, no resto do dia, à família e a atividades que gosta de fazer.
Necessidade de supervisão
O coordenador da pós-graduação de Mercado de Capitais da Fecap, Marcelo Cambria, afirma que, possivelmente, muitas das contas são administradas pelos pais como uma poupança para longo prazo para o filho. Como os investimentos em renda fixa estão com a rentabilidade mais baixa, pessoas que entendem melhor sobre o mercado financeiro podem preferir a Bolsa para conseguirem maior rentabilidade, já que o risco destes investimentos também é mais alto.
Nesta quarta-feira (5), o Copom (Comitê de Política Monetária) cortou mais uma vez a taxa básica de juros de 2,25% para 2% ao ano, valor que influencia diretamente investimentos em renda fixa, como o Tesouro Selic e a poupança.
O coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), Ricardo Teixeira, diz que menores de 15 anos devem ter orientação dos pais para investir na Bolsa, desde que estes tenham conhecimento sobre o mercado.
Para Teixeira, as aplicações podem ser uma forma de aprender sobre educação financeira. “É importante que nessa idade o adolescente aprenda qual a aversão a risco ele tem. A decisão [sobre compra e venda de ativos] deve ser dele”, afirma Teixeira.
Também é importante que o jovem invista valores baixos, que podem ser absorvidos pela família caso haja perdas.
Para Cambria, a maioria das crianças e adolescentes não tem a estrutura necessária para investir na Bolsa de valores sem supervisão. “Os pais já estão em uma curva de conhecimento que já viram muitos cenários, crise, os que têm pelo menos entre 20 e 30 anos, viveram pelo menos duas ou três crises relevantes. Por terem visualizado outros contextos, facilita muito na escolha e montagem da carteira”, afirma Cambria.
Como aprender a investir
Teixeira recomenda vídeos na internet e livros para quem quer aprender sobre o mercado financeiro, previamente escolhidos pelos pais, que podem analisar melhor a qualidade de determinado conteúdo.
Para educação financeira, Teixeira acredita que os pais, que tenham bom controle das finanças, podem ensinar aos filhos. “Os melhores professores sempre são os pais, avós, pessoas confiáveis da família. Depois existem cursinhos, vídeos, mas sempre devem ser apresentados a partir da avaliação crítica dos pais”, opina.
No cenário brasileiro atual, a renda fixa tem baixa rentabilidade e, portanto, quem quer receber mais, precisa assumir mais riscos. “Para os adolescentes que estão chegando ao mercado financeiro, ter um bom treinamento é importante. Logicamente quanto mais cedo melhor, mais a pessoa, normalmente, vai saber o que é bom do que é ruim”, afirma Teixeira.
Cambria diz que os pais podem aproveitar para ensinar educação financeira por meio dos ativos, ou seja, explicar os motivos pelos quais determinada ação valorizou ou caiu, qual o cenário do mundo que levou àquela oscilação na Bolsa. Assim, estas crianças e adolescentes vão estar mais preparados para investirem sozinhos quando forem mais velhos.
R7