Chico Araújo
Instabilidade somada a perspectiva de aumento da taxa de juros, ingredientes que criam um ambiente de desconfiança na economia brasileira. A possibilidade de aumento dos juros em um por cento, saindo dos atuais 12,35% ao ano para 13,25% da taxa Selic, gera apreensão. Apesar disso, empresários do setor de comércio e serviço continuam otimistas. “O Brasil precisa voltar a crescer”, afirmou nesta terça-feira o presidente da Fecomércio/Ba, Kelsor Fernandes, na abertura do evento “Perspectivas Econômicas e Reforma Tributária”, realizado na Casa do Comércio, em Salvador.
Segundo ele, o País precisa sair da condição de pobreza e fome e reverter o jogo. “O governo tem que buscar condições para a retomada do crescimento e continuar as reformas trabalhista, fiscal e administrativa. Não é possível continuar penalizando a população com a carga tributária. Os empresários têm receio de investir”. Um dos convidados do evento, o advogado tributarista Sérgio Couto reclamou que há dois anos o País vive com dois sistemas tributários em paralelo, sendo que o novo tem mais de 500 artigos. “O setor de serviço é um dos mais impactados e preocupa. A tributação, em tese, é interessante, mas a carga tributária entre 175 e 18% somada a inflação acabam influenciando no aumento dos preços. Ele prevê que uma nova onda inflacionária deve atingir o País entre 2025 e 2026.
Os dados de 2024 com relação ao varejo baiano foram animadores, refletiu o consultor econômico da Fecomércio, Guilherme Dietzer. O faturamento foi de R$ 221 bilhões, o melhor desde 2015, 7% a mais que 2023. O maior crescimento foi no setor de farmácia, com 16%, seguido por veículos, 9,2%, supermercado, 8,8% e material de construção, com 8,6%. A taxa de desemprego ficou em 9,7%, sendo que o saldo avaliado pelo Caged foi de mais de 85 mil empregados em 2024 com relação ao ano anterior.
Segundo ele, o varejo físico cresceu R$ 7,7 bilhões e o eletrônico avançou em R$ 9,2 bi. “Não se deve olhar os dois como concorrentes. Na Bahia, o físico cresceu 4,5%, enquanto o eletrônico 6,5%. No Nordeste, a Bahia foi o estado com melhores números na participação varejista, com 30%, contra 19% de Pernambuco. Dietzer ressaltou o desempenho do turismo no Estado, com um crescimento no faturamento de 15% entre 2023 e 2024. “Ainda tem muito a crescer. A Bahia representa 4,5% do faturamento nacional, um terço do Nordeste, isso sem contar o mês de janeiro de 2025. Os dados devem ser bem tratados e evitar fatores que impeçam o crescimento como a sensação de insegurança dos visitantes de locais como o Pelourinho”.
Ele considera a economia em momento de fragilidade e aponta alguns fatores, como a falta de aporte do governo com redução de gastos, a pressão da inflação com juros altos, a possível desaceleração da economia no segundo semestre desse ano, o risco de ano pré-eleitoral, além de fatores externos como o fortalecimento do dólar com o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos. Já o gerente economista da CNC, Felipe Tavares apresentou um cenário mais pessimista, revelando dados como o crescimento de apenas 8% em 12 anos e a produtividade em baixa no país. “O custo Brasil continua sendo uma trava para o crescimento, com a perda de competitividade e desigualdade. A gastança ainda é grande e consome 80% do PIB gerado. O problema não é quanto você ganha, é quanto você gasta”, salientou.
Tavares afirma que o problema não é de arrecadação e sim de controle de gastos. “Temos a 19ª maior carga tributária sobre consumo, mas concorrendo com países desenvolvidos como Noruega, Dianamarca, Finlândia e Suécia. Ao mesmo sofremos com a sétima maior tributação no consumo”. O economista apresentou um diagnóstico pessimista para o País, caso o Governo não mude o cenário, com crescimento econômico, fraco, produtividade baixa e declinante, desigualdade social elevada, gastos públicos elevados e ineficientes, além da tributação elevada e complexa.