A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) realizou, em outubro de 2017, uma avaliação para a certificação do modelo Boeing 737-MAX 8 para uso no Brasil. Na época, foi identificada a necessidade de treinamento extra para o sistema MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra) e outras funcionalidades do avião.
Em menos de seis meses, duas aeronaves deste mesmo modelo sofreram acidentes fatais, que deixaram mais de 350 mortos.
O sistema é responsável por evitar que a aeronave se desestabilize e tem sido alvo de denúncias de falhas por pilotos e autoridades aeronáuticas de vários países, principalmente após duas quedas de aviões deste modelo em menos de um ano. A mais recente aconteceu na semana passada na Etiópia, e a outra, em novembro de 2018, na Indonésia, em que o MCAS foi apontado em análises preliminares como uma das causas da queda do avião.
A reportagem do R7 teve acesso ao relatório em que a equipe da agência fez 63 recomendações, baseadas em comparações com o Boeing 737-800, um modelo anterior. No documento, disponível em inglês, os técnicos da agência brasileira recomendaram a necessidade de voos supervisionados extras de treinamento neste e em outros sistemas apontados como críticos para a operação do avião em comparação ao modelo anterior, já que a certificação da aeronave nos EUA não fazia esta recomendação.
“Esse tipo de avaliação é adotado pela ANAC sempre que um novo modelo é utilizado pelas companhias aéreas brasileiras, mesmo existindo Relatório de Avaliação Operacional da autoridade de aviação do país da fabricante da aeronave”, informou a ANAC por meio de nota.
O jornal americano The Washington Post chegou a publicar uma reportagem, citando o documento, em que afirma que a FAA (Administração Federal de Aviação), órgão de regulação da aviação americana, não teria feito as mesmas recomendações. Segundo o jornal, isso é apontado como um problema crítico, já que os documentos da agência americana são replicados em diversos países.
“Como resultado da avaliação, a ANAC incluiu a necessidade de estabelecer treinamento específico, tendo em vista que o manual técnico da aeronave informa sobre o MCAS e o relatório da ANAC lista o sistema como uma das diferenças entre o 737-8 MAX e o 737-8 NG. Foi a partir disso que a ANAC listou a funcionalidade como uma das diferenças entre os modelos e decidiu incluir o treinamento”, conclui a agência na nota.
Fora de Operação
Um total de 68 companhias aéreas ao redor do mundo utilizam o 737 MAX, da Boeing, que caiu no último domingo (10), entre a Etiópia e o Quênia, deixando 157 mortos. De acordo com o site da fabricante, pelo menos quatro empresas na América Latina utilizam ou estão prestes a iniciar voos com a aeronave: Aeromexico, Copa Airlines, do Panamá, Aerolíneas Argentinas e a brasileira Gol.
O acidente foi o segundo em menos de seis meses envolvendo o recém-lançado Boeing 737 Max. Este era o mesmo modelo de aeronave que caiu na Indonésia em outubro, matando 189 pessoas. É apenas a segunda vez que um modelo com menos de dois anos de lançamento cai duas vezes: a outra foi em 1952.
Após o acidente, países como o próprio EUA, país onde a aeronave é fabricada, China, Indonésia e Etiópia suspenderam os voos programados com as aeronaves, como medida de precaução. Desde a última quarta-feira (13) A ANAC também decidiu suspender a operação dos sete Boeing 737-MAX-8 no país.
R7