O imbróglio diplomático entre Brasil e Venezuela ganhou mais um capítulo. Após a Assembleia Constituinte venezuelana anunciar, no último dia 23, a expulsão do embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, o Brasil aplicou a reciprocidade.
Antes mesmo de o governo venezuelano ratificar a decisão formalmente, o Itamaraty declarou, nesta terça-feira (26), persona non grata o encarregado de negócios venezuelano em Brasília, Gerardo Antonio Delgado Maldonado.
Maldonado era o diplomata de hierarquia mais alta no Brasil, já que, há mais de um ano, a Venezuela não tem embaixador no País. Especialista em Venezuela, o professor de Relações Internacionais da Universidade de Roraima, Elói Martins Senhoras, considera que, no jogo de xadrez diplomático, o Brasil fez a sua jogada e agora espera novo movimento venezuelano. Tal situação deverá ser mantida até 2018, quando os dois países passarão por eleições presidenciais.
— O Brasil agora está à espera do que fará a Venezuela. Estas disputas diplomáticas têm essas características. Em um primeiro momento há um distanciamento, e assim que uma parte toma uma atitude, a outra fica no aguardo, até que haja um novo movimento, que pode ser de maior tensão ou de afrouxamento. Isso agora fica na dependência dos processos eleitorais em ambos os países.
Segundo ele, é um engano se pensar que a Venezuela é a maior prejudicada neste contexto, já que o país exporta muito menos para o Brasil do que o contrário. Ele ressalta, por exemplo que, durante o período em que Luiz Inácio Lula da Silva era o presidente do Brasil, a Venezuela era o quinto país que mais contribuía no saldo comercial brasileiro.
— Hoje não é a mesma coisa, mas a Venezuela ainda continua sendo um importador líquido que contribui com o saldo na balança do Brasil. Por outro lado, o Brasil importa muito pouco da Venezuela.
A grande perda para a Venezuela, segundo ele, tem relação com o aspecto político. Neste sentido o governo venezuelano está se isolando e se distancia cada vez mais de ter revista sua suspensão do Mercosul.
— A Venezuela perde mais do que o Brasil no âmbito político. O Brasil é um dos principais “players” do continente. Digo que do ponto de vista econômico o prejuízo maior é do Brasil e, do ponto de vista político, a mais prejudicada é a Venezuela.
Os dois países estão em crise desde o impeachment da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, em agosto de 2016. O governo venezuelano, já sob o comando de Nicolás Maduro, considerou a iniciativa um golpe de Estado.
R7