Cerca de 1 milhão de casos anuais de leishmaniose não se encaixam na definição da doença: os pacientes têm sintomas incomuns e os medicamentos padrão não funcionam. O mistério acaba de ser desvendado por um grupo de cientistas de Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo eles, o responsável pelos casos atípicos é um parasita com variações genéticas distintas das linhagens que são conhecidas.
Até agora, os cientistas achavam que a anomalia verificada em muitos pacientes era provocada por alguma condição especial de seus próprios organismos, como uma gravidez, ou doenças crônicas. Mas a nova pesquisa, publicada nesta quinta-feira, 1º, na revista Plos Neglected Tropical Diseases, revela que a causa estava mesmo nos genes da Leishmania, o parasita que causa a doença.
O estudo foi liderado por Luiz Henrique Guimarães e Albert Schriefer, da UFBA. Entre 2005 e 2012. A identificação precisa dos casos atípicos é importante, segundo os cientistas, “porque o organismo do paciente que contraiu parasita com as variações genéticas não responde às drogas utilizadas normalmente contra a leishmaniose, mas responde a outros tratamentos disponíveis”.
Doença parasitária causada pelo protozoário Leishmania, a doença é transmitida por mosquitos do gênero Lutzomyia, conhecidos como mosquito-palha, nas regiões tropicais e subtropicais. A picada do mosquito contaminado pelo parasita pode provocar lesões na pele, que por sua vez podem ser infectadas por bactérias. Segundo os autores do estudo, o Brasil é um dos seis países que, juntos, concentram 90% dos casos da doença.
A equipe coordenada por Guimarães e Schriefer acompanhou 51 pacientes com casos atípicos de leishmaniose (CAL) e outros 51 com leishmaniose cutânea (LC) comum. Além de dados clínicos, os cientistas coletaram amostras de sangue e de pele para estudar tanto a genética do parasita que infectava cada paciente, como a resposta do sistema imunológico dos pacientes à doença.
O pesquisadores descobriram que, em comparação aos pacientes com LC, os que estavam infectados com CAL tinham um número consideravelmente maior de lesões – especialmente acima da cintura.
Em geral, a doença dos pacientes com CAL é mais duradoura e tem mais probabilidade de resistir ao antimônio, a substância padrão utilizada no Brasil para o tratamento da doença. Enquanto 98% dos pacientes com LC foram curados depois de uma ou duas aplicações da droga, apenas 35% dos pacientes com CAL se livraram da doença depois de duas aplicações.
Prosseguindo com as análises, os pesquisadores descobriram que a CAL encontrada no nordeste do Brasil é causada por uma linhagem geneticamente distinta da Leishmania braziliensis. Os protozoários de 62,5% dos pacientes com CAL tinham variações genéticas que só foram encontradas nessa linhagem do parasita. Eles também verificaram que os pacientes com CAL tinham níveis mais altos de proteínas inflamatórias produzidas pelo sistema imune.
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