Por volta das 10h do último dia 13, um sábado, uma comerciante de 27 anos, moradora de uma favela no extremo da zona leste de São Paulo, foi surpreendida pela abordagem de dois policiais militares do 19º Batalhão da PM. Segundo ela, os policiais invadiram e reviraram toda sua casa e apreenderam dinheiro e um caderno em que anotava os fiados de suas vendas de bijuterias.
Para a Polícia Militar, as anotações apreendidas são referentes à contabilidade de tráfico de drogas. No registro feito no 69º DP (Teotônio Vilela), os PMs disseram que chegaram ao local após uma denúncia anônima sobre tráfico de drogas.
A situação foi relatada ao Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), que deve encaminhar o caso para a Defensoria Pública, a Ouvidoria de Polícia de São Paulo e a Corregedoria da Polícia Militar.
Primeiro, os policiais fizeram uma busca no bar onde a comerciante estava e, em seguida, invadiram a casa. Os próprios PMs afirmam que durante toda a busca, nenhum entorpecente ou qualquer outra ilegalidade foi encontrada pelos policiais no estabelecimento e na residência.
Mas a comerciante conta que além do caderno de anotações, os policiais militares pegaram cerca de R$ 500 que ela tinha guardado das suas vendas, e apreenderam. Dentro da casa invadida, segundo a polícia, estavam outras duas mulheres, que também passaram a ser investigadas por suposto tráfico de drogas, e uma sacola com R$ 7.170 em espécie.
Segundo a comerciante, o dinheiro dela não estava junto com o restante do valor (cerca de R$ 6.600). Essa outra quantia seria de sua amiga, que está passando uns dias em sua casa devido a questões pessoais. No entanto, no registro da Polícia Civil, os PMs não indicaram essa diferenciação.
Depois de fazer o boletim de ocorrência, as três mulheres — uma manicure de 28 anos, uma recepcionista, de 31, e a comerciante — foram liberadas, e a Polícia Civil solicitou ao Instituto de Criminalística um exame grafotécnico, para comparar a caligrafia das três e saber de quem é o caderno de anotações.
Conversa com suposto policial civil
REPRODUÇÃO
Na manhã do dia seguinte, às 7h30, a comerciante recebeu uma mensagem no WhatsApp, possivelmente de um policial civil da delegacia onde o caso foi registrado. Na troca de mensagens, ela conta sobre seu medo e desespero por causa da situação e fala que precisa recuperar seu dinheiro do trabalho que foi apreendido.
O suposto policial civil do 69º DP diz que “ninguém vai fazer nada” de mal contra ela, e ressalta que ela “pode ficar tranquila”. O contato afirma que quem pegou os pertencias da comerciante foi a Polícia Militar e propõe dela voltar a conversar com a polícia, para dar possíveis informações, mas não especifica quais.
“Amiga, minha intenção era só conversar com você. Sobre o que pegaram, nada foi apresentado na delegacia. Sei que ficou chateada, mas vai ficar tudo bem, quero te ajudar. Sei que precisa de dinheiro, e nós de informações”, escreveu o suposto policial civil. Com medo, a comerciante bloqueou o contato, trocou de número e registrou o caso no Condepe.
R7