Somente no primeiro semestre de 2017, 1,5 milhão de consumidores foram incluídos nas listas de negativados, de acordo com dados do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). O indicador aponta para um total de 59,76 milhões de pessoas físicas com nome sujo no País.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, classifica a união dos dois indicadores como fundamental para compreender o atual ambiente de escassez no mercado de crédito.
— Mesmo que a situação econômica tenha parado de piorar, o consumidor ainda se depara com uma taxa de desemprego muito elevada e de queda da renda. Por conta disso, o nível de inadimplência ainda permanece muito alto e faz com que o concedente de crédito, seja o banco ou a loja, ainda não abra a torneirinha para dar crédito da mesma forma como antes da crise.
O BC (Banco Central) aponta para uma leve melhora no saldo das operações de crédito do sistema financeiro no mês de julho, que atingiu R$ 3,078 bilhões (alta de 0,4% em comparação com o mês anterior). Ainda assim, o volume concedido aos consumidores está longe do patamar registrado nos últimos anos.
O consultor econômico da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Nicola Tingas, afirma que a liberação de recursos acompanha o ciclo econômico. Ele destaca que, apesar da melhora apresentada no ambiente de concessão de crédito nos últimos meses, os interessados nas linhas oferecidas “ainda são ruins” e impossibilitam a liberação dos bancos.
— O crédito continua seletivo, mas com muito apetite para poder fazer operação. […] Enquanto a conjuntura econômica não se firmar, as pessoas não começam a ter um fluxo de caixa e nós vemos dificuldade para quem estava com o orçamento complicado, endividado, e está saindo agora disso.
O diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Roberto Vertamatti, diz que o volume de crédito disponível no mercado caiu cerca de 2% para pessoas físicas e 6% para as empresas entre 2014 e 2017.
Segundo Vertamatti, os bancos e as outras instituições financeiras têm real interesse em emprestar dinheiro porque “vivem dos juros”, mas adotaram uma política de precaução contra o risco de não receberem os recursos de volta.
— No momento de conceder o crédito, o banco olha para a perspectiva do cliente com relação às possibilidades de pagamento do empréstimo. Se o ambiente é de desemprego, de inadimplência, eles ficam totalmente desestimulados para emprestar.
Consignado
Exceção à regra das demais linha de crédito disponíveis no mercado, o empréstimo pessoal consignado — aquele com desconto direto na folha de pagamento — ainda é oferecido com maior frequência e quantidade aos interessados.
De acordo com o BC, a linha foi responsável pela concessão de R$ 1,768 bilhão a pessoas físicas no primeiro semestre, volume 5,82% maior do que o registado no mesmo período do ano passado. Kawauti afirma que o crédito consignado ganha espaço no mercado porque é a linha mais vantajosa, tanto para o consumidor quanto para o banco.
— Apesar de o crédito continuar restrito, o empréstimo consignado tem uma garantia muito mais forte. O consumidor já paga a dívida antes de receber o salário na conta.
Segundo o BC, a taxa de juros cobrada pelo consignado sai por, em média, 27,4% ao ano. A linha é vantajosa quando comparada com linhas como o cartão de crédito (+378,3% ao ano) e o cheque especial (+322,6% ao ano) — as duas modalidades mais caras que existem no Brasil.
Apesar de ser uma linha de crédito mais acessível neste momento, o empréstimo consignado é limitado para aposentados, pensionistas e profissionais com carteira assinada em uma empresa conveniada com um banco que ofereça o crédito.
R7