Tendo como temática do dia a montagem de tabuleiros e a importância da vestimenta para o exercício do ofício de baiana e baiano de acarajé, o Projeto Capacitação Baianas 2025 realizou o penúltimo encontro nesta quarta-feira (29). A aula reuniu as participantes no Empório Jacuípe, em Barra do Jacuípe.
A atividade, que qualifica 253 profissionais que atuam em toda a extensão da orla de Camaçari, é fruto da parceria entre a prefeitura, o governo do estado e a Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM).
A baiana de acarajé filiada à ABAM, Marcia Silva, que atua há mais de 10 anos na Rua 10 da Praia da Espera, em Itacimirim, descreve a vestimenta como o próprio caráter do ofício. “Quando eu visto minha roupa de baiana e boto meu torso, me sinto mais poderosa, sabe? Ela define a gente. Me sinto realizada e sei que é uma farda pro meu trabalho. É muito importante”, reconheceu a profissional, que começou vendendo a iguaria em portas de bar e em festas.
Já a baiana de acarajé Eliane de Jesus herdou o ofício de sua mãe, dona Elizinária. Desde os 9 anos já ajudava a mãe no ponto, que fica na Praça Salustiano Santiago de Souza (antiga das Amendoeiras), próximo à igreja católica de Arembepe e à escultura de Iemanjá. Mesmo há 20 anos à frente do tabuleiro, o curso permitiu que entendesse com mais clareza a importância de se vestir com os paramentos tradicionais do ofício. “Entendi que o fardamento é essencial. Você é o cartão-postal da sua praia. O cliente chegar lá, vê você e o seu tabuleiro arrumados e vai te olhar de outra forma. Mesmo que não esteja com vontade de comer um acarajé, ele vai ficar mais disposto pra, pelo menos, experimentar”, acredita a profissional.
A facilitadora da capacitação, Elaine dos Santos, destacou que a vestimenta é item já descrito em leis. “Não é uma coisa que a gente acha bonita e usa no tabuleiro só para encantar a comunidade local e os turistas. Esse fardamento é composto de bata, saia e turbante, que é o pano da cabeça. Assim como outras profissões têm o seu fardamento, nós, baianas de acarajé, também temos o nosso”, demonstrou a profissional, que é herdeira de um dos grandes nomes do tabuleiro do estado – a tradicional Dinha do Acarajé –, reconhecido ponto de comercialização da iguaria no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
Rita de Cássia, coordenadora do núcleo da ABAM Camaçari, destacou que já vem mobilizando agentes políticos em Camaçari a fim de ter um decreto municipal que ordene o ofício localmente. “Precisamos de ordenamento, porque as nossas baianas precisam ter direitos e deveres, para que o nosso ofício seja respeitado dentro do município”, ressaltou.
Ao longo dos encontros do Projeto Capacitação Baianas 2025, iniciado em 24 de setembro, foram tratados os temas: Ética no trabalho, Prevenção de acidentes, Combate à violência contra a mulher, Sustentabilidade e uso responsável do azeite de dendê e óleo, Boas práticas de manipulação e higiene de alimentos, Respeito à diversidade – como tratar bem o turista LGBTQIAPN+, Importância das baianas no cenário do turismo nacional, Marketing digital, Discussão de caso de sucesso, Intolerância religiosa, Confecção de turbantes, Indumentária e arrumação do tabuleiro tradicional.
A formação de 32 horas terminará em 4 de novembro, abordando a temática “Maquiagem e identidade”, dirigida para baianas que atuam na sede e orla de Camaçari, filiadas ou não à ABAM.
Realização do trabalho conjunto entre a Secretaria de Turismo do Estado, e as secretarias municipais de Turismo (Setur) e de Serviços Públicos (Sesp), o Projeto Capacitação Baianas 2025 conta, ainda, com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado (SPM), da Secretaria da Mulher de Camaçari (Semu) e do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA).