O câncer de mama é uma das doenças que mais afetam a população feminina e a quinta causa de morte por câncer, no país. Embora a maioria dos casos ocorra a partir dos 50 anos, tem crescido a incidência em mulheres jovens, especialmente na faixa etária de 30 a 40 anos. De acordo com dados da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), o número de ocorrências no público abaixo dos 40 anos mais que dobrou entre 2009 e 2020 – saltando de 7,9% para 21,8%.
Conforme Eunice Leite, ginecologista e professora do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), esse aumento está relacionado a diferentes causas. “As que tiveram a primeira menstruação (menarca) antes dos 12 anos podem ter um risco ligeiramente aumentado, devido à maior exposição ao estrogênio ao longo da vida. Não ter tido filhos ou primeira gestação em idade acima dos 30, utilização de contraceptivos hormonais por tempo prolongado e em altas doses e tratamentos com radioterapia no tórax durante a infância ou adolescência também influenciam no desenvolvimento da doença”, afirma.
Histórico familiar e fatores hereditários são outros aspectos que explicam a presença do quadro. A ginecologista esclarece que mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 são exemplos conhecidos. “Antecedente familiar de câncer de mama ou ovário, principalmente em parentes de primeiro grau com menos de 50 anos, e mutações genéticas podem elevar o risco em até 70%, inclusive em mulheres jovens”, ressalta.
Sinais e agressividade
Assim como em outros tipos de câncer, existem sinais que alertam para o surgimento da neoplasia. Segundo a docente, o mais comum é o aparecimento de um nódulo endurecido, indolor, com textura mais firme e que pode ser palpado na mama ou região da axila. Além disso, mudanças no tamanho, forma ou contorno de um dos seios, que não estão associados ao ciclo menstrual, precisam ser observadas.
Outro ponto de atenção é o impacto da doença, uma vez que em pacientes jovens costuma ser mais agressivo. “Tumores em mulheres jovens apresentam taxa de proliferação celular mais alta, indicando que as células cancerígenas se dividem rapidamente. Isso contribui tanto para o crescimento acelerado quanto desenvolvimento de metástases em curto período. As jovens ainda têm mamas mais densas, o que dificulta a detecção precoce em mamografias e um prognóstico favorável”, diz Eunice Leite.
Uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), iniciada em 2022, destaca que o subtipo do câncer de mama mais invasivo é o triplo negativo (TNBC, na sigla em inglês). O estudo também revela que as brasileiras negras enfrentam um risco 57% maior de óbito do que as brancas. A probabilidade entre as pardas chega a 10% a mais. Condições ambientais e comportamentais, como descoberta em estágios avançados e dificuldades para conclusão dos tratamentos, são apontados como possíveis motivações.
Métodos de diagnóstico
No Brasil, as mulheres são encaminhadas para mamografia a cada dois anos, começando aos 40 anos. Contudo, para aquelas com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, casos na família ou histórico de terapia de radiação no peito, é recomendada a realização anual a partir dos 30 anos. O rastreamento ainda pode incluir exames de ressonância magnética e ultrassonografia.
“O ultrassom é frequentemente usado como primeiro método de imagem, especialmente quando há um nódulo palpável. Fora a eficiência na visualização de tecidos densos, ajuda a diferenciar cistos de tumores sólidos”, pontua a professora da UNIFACS, cujo curso de Medicina é parte integrante da Inspirali. Ela também reforça o papel do ginecologista e mastologista, já que durante as consultas regulares é possível identificar nódulos, alterações na pele, retração mamilar e secreções anormais por meio de exames clínicos.
Sobre prevenção, conforme o INCA, cerca de 17% dos casos de tumores malignos nos seios poderiam ser evitados com hábitos saudáveis, como adoção de dieta equilibrada, prática de atividade física, controle do peso e redução no consumo de bebidas alcoólicas.