Assim como outros países ao redor do mundo, o Brasil também sente os impactos das paralisações decorrentes do novo coronavírus. Alguns deles, entretanto, não são negativos. Com o fechamento de serviços, cancelamento de voos e menor movimento de carros nas ruas, capitais brasileiras tiveram diminuição da poluição atmosférica e melhora na qualidade do ar na última semana.
O que se viu recentemente na Itália e China, com quedas notáveis na emissão de poluentes por conta da quarentena, agora ocorre em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
Por meio de análise em plataformas de monitoramento e secretarias de meio ambiente locais, a reportagem do R7 coletou dados que comprovam a melhora na qualidade do ar das quatro capitais. Confira:
São Paulo
Em São Paulo, a partir da plataforma de monitoramento de qualidade do ar da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a reportagem avaliou a emissão de três poluentes (monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e material particulado) no período de uma semana, entre 19 e 25 de março.
Das nove estações de monitoramento para monóxido de carbono (CO) disponíveis na capital paulista, apenas Santo Amaro não apresentou redução no valor diário de emissões do poluente, com valor de 0,3 ppm (parte por milhão), nos dias 19 e 25.
Da data inicial à final no período de análise, houve redução significativa nas outras oito estações: Parque D. Pedro ll (de 0,6 ppm a 0,1), Congonhas (de 0,8 ppm a 0,4), Ibirapuera (de 0,7 ppm a 0,4), Mooca (de 0,9 ppm a 0,3), Cerqueira César (de 0,8 ppm a 0,2), Grajaú-Parelheiros (de 1,0 ppm a 0,2), Pinheiros (de 1,0 ppm a 0,3) e Marginal Tietê-Ponte dos Remédios (de 1,4 ppm a 0,4).
Das cinco estações disponíveis para avaliação das emissões de dióxido de nitrogênio (NO2), entre 19 e 25 de março, todas mostraram redução: Parque D. Pedro ll (de 56 µg/m3 a 23), Congonhas (de 88 56 µg/m3 a 55), Cerqueira César (de 66 56 µg/m3 a 24), Pinheiros (de 60 56 µg/m3 a 23) e Marginal Tietê-Ponte dos Remédios (de 94 56 µg/m3 a 52).
Houve quedas visíveis também nas emissões de material particulado (MP10) nas oito estações avaliadas: Parque D. Pedro ll (de 26 µg/m3 a 16), Cerqueira César (de 34 µg/m3 a 13), Nossa Senhora do Ó (de 37 µg/m3 a 16), Grajaú-Parelheiros (41 µg/m3 a 16), Interlagos (de µg/m3 29 a 14), Itaim Paulista (de 20 µg/m3 a 17), Capão Redondo (de 21 µg/m3 a 13), Marginal Tietê-Ponte dos Remédios (de 42 µg/m3 a 20).
O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) informou que houve redução de concentrações de CO (monóxido de carbono) e NO2 (dióxido de nitrogênio) em várias estações por todo o Estado, especialmente na região metropolitana de São Paulo.
Entre 19 (à esquerda) e 25/3, emissão de CO diminuiu em grandes cidades brasileiras
Reprodução/Inpe
Rio de Janeiro
Para o Rio de Janeiro, foram analisadas oito estações de monitoramento da qualidade do ar. Utilizando de cinco diferentes poluentes (monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, material particulado, dióxido de enxofre e ozônio) como parâmetro, o MonitorAR Rio calcula o índice de qualidade do ar em cinco níveis, indo de bom (menores valores, com pontuação de 0 a 50) a péssimo (valores mais altos, acima de 300).
Em 19 de março (quinta-feira), as estações Centro (73), Copacabana (54), Tijuca (52), São Cristovão (52) e Bangu (53) apresentavam qualidade regular, e somente Irajá (34), Campo Grande (36) e Pedra de Guaratiba (39) tinha nível bom. Em 20 de março, o quadro já mostrava melhora: de sete estações disponíveis, quatro apresentavam nível bom e três, regular.
De sábado (21) diante, a melhora foi significativa: com quedas nos valores, todas as estações avaliadas apresentaram nos cinco dias boa qualidade do ar. No dia 25, último da análise, os índices foram visivelmente melhores que na semana anterior: Centro (10), Copacabana (44), São Cristóvão (18), Tijuca (12), Irajá (29), Campo Grande (26) e Pedra de Guaratiba (27). Bangu não teve análise disponível na data.
Curitiba
A Sema (Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba) enviou à reportagem os valores de concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) entre 19 e 25 de março. Na capital paranaense também houve redução significativa: na primeira data, o valor era de 15 µg/m3, enquanto no dia 25 era de aproximadamente 7,5 µg/m3.
A pasta, que não monitora emissões de monóxido e dióxido de carbono, afirmou que com a escassez de chuvas e baixa umidade do ar, a tendência seria o aumento da concentração de NO2. Como houve queda, prosseguiu a secretaria, se pôde “concluir que isso se dá em razão do isolamento social, já que há menos veículos circulando nas ruas”.
Belo Horizonte
Na cidade de Belo Horizonte também se notou queda de emissões de poluentes. Em análise enviada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais ao R7, que considerou dois períodos para a pesquisa: o primeiro entre 1º e 19 de março, e o segundo entre 20 (primeiro dia de decreto de isolamento) e 24 de março. O estudo foi feito em duas estações de monitoramento, no bairro São Gabriel e na região central da capital mineira.
A análise na estação PUC São Gabriel considerou os poluentes dióxido de nitrogênio (NO2) e partículas respiráveis (PM2,5). Em relação às partículas respiráveis, considerando o primeiro horário de pico com veículos nas ruas (7h), a concentração média foi de 9,58 µg/m3 durante o primeiro período (1º a 19/3) e reduziu para 5,00 µg/m (20 a 24/3). Para o dióxido de nitrogênio, também houve redução: no primeiro período, a concentração variou entre 8,5 µg/m3 a 26,99 µg/m3; no segundo, variou entre e 9,56 µg/m3 a 16,19 µg/m3.
Na estação Centro, a análise foi feita a partir dos poluentes dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2). No caso do dióxido de enxofre, se viu a redução das concentrações médias horárias em diferentes períodos. Isto ocorreu, segundo a pasta, porque durante o segundo período analisado (20 a 24/3) os dados de monitoramento registraram concentrações horárias de SO2 com valores iguais a zero. Sobre o dióxido de nitrogênio, se observou que a concentração máxima horária para às 19h (segundo horário de pico) foi de 23,26 µg/m3 durante o primeiro período (1º a 20/3) e caiu para 15,2 µg/m3 no segundo período (20 a 24/3).
R7