Administradas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as unidades do Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (Caps AD) integram a rede de atenção psicossocial, que tem como ponto estratégico cuidar de pessoas, em processo de imersão na dependência de álcool e outras drogas.
Em Salvador, existem dois espaços atuando neste sentido. O equipamento Gey Espinheira, localizado no Jardim Santo Inácio, funciona 24 horas, com internações e atendimentos ambulatoriais. Já a unidade de Pernambués abre das 8h às 17h, de segunda a sexta, para consultas e terapias com uma equipe multi e interdisciplinar de profissionais.
A unidade de Pernambués está localizada na Rua Conde Pereira Carneiro, 271. Ali atuam profissionais de diversas áreas, entre terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, clínicos, psiquiatras, equipe de enfermagem completa, apoiador técnico, farmacêuticos, administrativo, cozinheira, serviços gerais e agentes da Guarda Civil Municipal (GCM).
No espaço, são realizados serviços de matriciamento (apoio pedagógico-terapêutico) em saúde mental, atividades em grupos, acolhimento técnico, educação continuada e oficinas. São ofertados cursos de desenho, artes, música e cultivo de hortas.
Os pacientes matriculados e em situação de vulnerabilidade recebem refeições diárias. Os técnicos realizam a avaliação, verificam a necessidade do paciente e oferecem lanche e almoço. Cerca de 50 refeições são distribuídas diariamente. Além da copa, o espaço conta com uma estrutura composta por farmácia, enfermaria, cozinha, quatro consultórios e área externa.
Há 12 anos realizando tratamento no Caps Ad de Pernambués, o eletricista Luiz de Souza, 49 anos, falou sobre a importância dos serviços oferecidos no local. “Cheguei aqui muito mal, com grandes transtornos mentais e dependência química. Eu fiquei doente de uma hora para outra e aqui recebi todo apoio possível. Nesse lugar me sinto acolhido, o ambiente é maravilhoso e essencial para minha vida. Conto com isso aqui para sobreviver”, revelou.
Redução de danos – Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 46 milhões de pessoas no país consomem álcool diariamente, correspondendo a quase 30% da população. Dentre elas, 26 milhões têm predisposição a algum tipo de dependência. Conforme o levantamento, 70% desse público são homens e 30% mulheres. A pesquisa apontou ainda que 10% da população sofre de alcoolismo.
Diante desse quadro, a coordenadora do Caps AD Pernambués, Jamile Oliveira, disse que o local preza pelo cuidado, prestando um serviço de empoderamento social e saúde dos usuários. “A lógica da redução de danos é de extrema importância. O trabalho realizado é com o objetivo de prezar pela vida do usuário. Entendemos que cada um traz uma história de uso diferente e atuamos a fim de mostrar as repercussões do uso dessas substâncias”, afirmou.
Segundo ela, os pacientes precisam de um ambiente de ressocialização, para que se sintam úteis e capazes e se tornem usuários em reabilitação, sem estereótipos. “Os estigmas existem, mas atuamos para o controle do uso, dando o apoio necessário para que o dependente possa perpassar pelos ambientes sociais, sem nenhum tipo de preconceito”, explicou.
Motivação – O atendimento acontece por demanda espontânea e aberta. É necessário que o usuário adentre à unidade motivado. A família deve fazer o suporte de encorajamento e atuar em conjunto com a equipe. Essa interação repercute, diretamente, no processo de cuidar e na adesão dessas pessoas. Atualmente, a unidade de Pernambués tem 3.475 usuários cadastrados, sendo 345 deles com matrícula ativa.
Por força da pandemia, houve um crescimento expoente do número de dependentes, assim como a mudança no perfil. Ainda hoje, o público é majoritariamente negro, masculino, de baixa renda, em processo de vulnerabilidade social.
Entretanto, há um aumento significativo de pacientes do sexo feminino, em diferentes perfis econômicos. Foi registrado um índice de 24% a mais de mulheres sendo atendidas no local, desde 2020. A coordenadora explica que o isolamento imposto pela crise sanitária ampliou a demanda de ingestão de álcool e outras drogas.
Acolhimento – O Plano Terapêutico Singular (PTS) delimita o período de tratamento, de acordo com a especificidade do paciente. Após o acolhimento e atendimento multidisciplinar, o PTS é formulado, conforme o perfil do usuário. O tratamento não tem prazo para finalização.
A alta no atendimento é dada a partir da análise e entendimento dos profissionais, de que há um controle do consumo de álcool e drogas. Existem pacientes que são acompanhados na unidade há mais de 13 anos. Os serviços são ofertados de acordo com a perceptividade e peculiaridade da necessidade do usuário.
Para o pintor Paulo Marques, de 66 anos, o Caps significa transformação de vida. “Sou dependente do álcool. Antes de frequentar esse lugar, eu bebia muito, chegava a desmaiar na rua. Esse lugar transformou minha vida. Estou há seis meses sem fazer uso da substância e sei que cada dia é uma vitória”, concluiu.
Fotos: Bruno Concha/Secom