Exatamente 1 ano atrás, o avião da LaMia que transportava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, sofreu uma pane seca, em decorrência da falta de combustível, e caiu entre as cidades de La Unión e La Ceja. A tragédia provocou a morte de 71 pessoas, entre elas membros do clube, jornalistas e parte da tripulação.
Pouco antes de a catástrofe completar um ano, o presidente do clube catarinense, Plínio David de Nês, o Maninho, assinou um contrato que garante um pagamento mensal à Abravic (Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense).
“Antes da parceria ’13º jogador’, que é como ficou chamado o acordo assinado, a Chapecoense não tinha repassado valor algum à Abravic. Nós sobrevivíamos da iniciativa privada e da ajuda da sociedade civil. Já ajudávamos as famílias com assistência mesmo sem o auxílio do clube. Acredito, ainda, que foram as nossas iniciativas particulares que fizeram a diretoria ver que somos uma instituição séria”, afirmou o advogado, que entrou na causa após o apelo do atacante da Chape, Tulio de Melo.
Apesar da demora, o presidente da associação garantiu que sempre foi muito bem recebido pela Chapecoense e que entendia que o clube também estava sofrendo com mudanças de reestruturação. “Eles perderam toda a estrutura administrativa, financeira e gestacional, e então precisaram se reestruturar para que pudessem auxiliar as famílias. Quando perceberam que a Abravic se desenvolveu de uma forma organizada e com credibilidade, abraçaram a campanha”, explicou Gabriel.
O diretor de comunicação e marketing da Chapecoense, Fernando Mattos, confirmou o diálogo frequente com a associação durante quase um ano: “Nossas conversas com as associações (Abravic e AFAV-C) eram permanentes. A Abravic solicitou o auxílio ao clube, que recebeu e submeteu a proposta à aprovação da diretoria. Nós garantimos que, apesar de ser uma iniciativa da Abravic, os recursos deveriam ser aplicados de forma assistencial principalmente para a área da saúde, tanto física quanto mental, das vítimas”, afirmou Mattos.
O diretor creditou a problemas administrativos a razão da demora na aprovação do projeto: “As associações não surgiram logo depois do acidente. No momento em que a solicitação chegou, nós formalizamos. Sempre auxiliamos as vítimas desde então. Além da reconstrução do clube, passamos por mudanças administrativas, já que pessoas que contribuíram a vida inteira para a Chapecoense perderam a vida naquele acidente. Perdemos todo o elenco e os responsáveis pela gestão do clube”, disse.
Muitas vítimas continuam insatisfeitas com a demora nas investigações, como concordou Mattos, que garantiu que o clube fez “tudo o que estava ao seu alcance” durante todo o ano.
“Estamos trabalhando sobre as demandas das vítimas para que, juntos, possamos encontrar o melhor caminho a ser seguido. Desde o primeiro momento, o clube deu uma assistência necessária e fez de tudo para agilizar os trabalhos em Medellín”, disse o executivo. “Insistimos para a rápida liberação dos corpos, para que as famílias tivessem condições de preparar seus funerais. Já pagamos todas as rescisões de contrato, direitos de imagem e premiações. Realizamos pagamentos de seguros a quem tinha vínculo empregatício com o clube e lutamos para que os corpos chegassem ao Brasil o mais rápido possível”, garantiu. “Além disso, todas as doações feitas à Chapecoense desde então foram repassadas às famílias em março deste ano”.
O próximo passo do clube é dar andamento às investigações e encontrar responsáveis pelo acidente.
O diretor garantiu que a Chapecoense está trabalhando duro para que essas respostas cheguem logo aos ouvidos das vítimas, assim como o presidente da Abravic, que está auxiliando para que as investigações sejam logo concluídas.
“Estamos em busca, também, do seguro obrigatório a que os familiares das vítimas do acidente têm direito de receber. Elas ainda não receberam esse dinheiro por questões burocráticas e contratuais”, explicou Gabriel.
O valor original do ressarcimento chega aos R$ 81,4 milhões e deveria ter sido pago pela seguradora responsável pelo voo e pela companhia LaMia, que fechou as portas. “Esse é um dos problemas que os advogados do clube têm pela frente. Precisam receber o dinheiro mesmo com o fim da companhia aérea”, disse.
Segundo o presidente, a seguradora ofereceu, por meio de um fundo humanitário, o valor de R$ 650 mil — muito aquém do que estava assegurado. “Queremos deixar claro que o valor a ser pago é bem maior. Por isso, temos nos reunido com advogados para agilizar esse processo”, garantiu.
Encontrar parceiras é o próximo plano da Abravic, com o intuito de conseguir planos de saúde para todas as famílias das vítimas. “O custo é alto, por isso ainda não conseguimos dar a elas esse benefício. Mas isso é um plano futuro. Agora, precisamos focar nas investigações para que as famílias fiquem tranquilas sabendo quem são os responsáveis pelo acidente para que, eventualmente, sejam punidos”, disse Gabriel.
Após um ano de tragédia, é a apatia quem toma conta desses familiares, que, desesperançosos, lutam contra a burocracia para que sejam indenizadas. “São 68 famílias brasileiras, existe uma variedade de postura, de reação, de posicionamento. Mas todas elas têm algo em comum: a tristeza irreparável da perda. Ainda mais quando ela se dá em dimensão internacional, o que não permite que essas pessoas se livrem das lembranças ruins. A exposição é extremamente prejudicial para a recuperação psicológica desses familiares”, encerra o presidente da Abravic.
R7