Cinira estava desencantada da vida. Pensava besteiras entre a hora em que terminava de preparar o almoço e ia para o tanque lavar dezenas de peças de roupa. O marido nem olhava para ela. Preferia encher a cara com os amigos e assistir Faustão na TV. Os filhos tratavam-na como doméstica, semi-escrava, sem salário, sem carinho.
Uma amiga que disse: menina, você ainda é jovem… Saia de casa, vá andar na praia, ver o mundo.
Um dia após marido e filhos reclamarem da repetição do menu do almoço decidiu seguir os conselhos da amiga.
Vestiu a calça legging dada de presente pela irmã há dois anos e ainda sem uso; passou rapidamente uma prancha nos cabelos para disfarçar a oleosidade, encapsulou-se em cinta para esconder a barriga e a cintura que denunciavam o descuido com a própria saúde, vestiu uma camisa de propaganda de empresa de telefonia, colocou um tênis surrado e saiu pelo mundo.
Na primeira esquina, ao passar por um prédio em construção, ouviu o primeiro: “Gostosa”. Envergonhou-se.
Uma quadra depois gritaram: “Tesuda”. Enrubesceu-se.
Outra construção e assovios, assédios e piadas machistas. Já sorria discretamente.
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Na volta, em casa, deu um pontapé – literalmente – na bunda gorda do marido pinguço. Forçou os filhos a lavarem louça, arrumar a cama, esfregar o chão.
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Continuou a rotina de caminhadas… Evoluiu para pequenas corridas… Hoje é triatleta, corre maratonas, é muito gostosa, admirada e desejada por homens e mulheres.
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