Era uma sexta-feira, a segunda do mês, que tinha iniciado em um domingo, 1º. A única sexta-feira 13 daquele ano bissexto e caíra justamente em um mês de agosto, tido mês do desgosto. Tempo fechado, nuvens roxas e inchadas, mas o calor era infernal. O ar-condicionado havia quebrado. Abriu as janelas. Voltava pra casa. Ao transpor a curva no bairro de Canabrava, um urubu erra a direção e adentra o carro. Nunca soubera como um urubu piava. Soube naquele momento. Subiu no meio fio enquanto travava uma luta inimaginável contra aquela ave asquerosa. Arranhado, conseguiu tirar o bicho e seguir, atônito, viagem. Ainda na avenida San Rafael ao desviar de um gato preto subiu novamente o meio fio e estourou o pneu. A essa hora já chovia e agradeceu aos céus o banho que tomou tirando o cheiro podre do urubu do seu corpo. O celular descarregou, a gasolina entrou na reserva, a bateria falhou. Teve que pedir ajuda para empurrar. Achou estar sendo seguido, achou que ia ter um ataque cardíaco, achou que nunca mais chegaria em casa para ver sua Sônia. No meio de tanta confusão, perdeu a chave do apartamento. Chegou ao condomínio iluminado por uma imensa lua cheia. Subiu ao 13° andar. Exausto. O elevador quebrou, faltou luz. Subiu os 208 degraus achando que não sobreviveria. Bateu à porta, que se abriu sozinha. Levemente. O escuro. O silêncio. Uma vela se acende. Era ela. Baby doll negro como a noite. Batom negro. Os cabelos longos, negros como breu, caídos intencionalmente sobre os seios, intencionalmente semi-descobertos… Fizeram amor loucamente naquela noite escura de uma sexta-feira 13… E assim fizeram em todas as sextas-feiras 13 seguintes… marcadas em caneta permanente nos calendários anuais.
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