O fim do mundo
Era o primeiro dia de outubro de 1940. O menino Zeca, perto de completar 13 anos, não entendeu como, de repente, em plena manhã, o dia começasse a escurecer. Era como se a noite chegasse de susto. O pânico foi geral na Fazenda Torneiro, localizada no alto do morro da cidade de Coração de Maria, que fica a 110 quilômetros de Salvador.
Zeca olhou amedrontado para o céu. O sol desaparecia aos poucos, ao tempo em que o breu ia cobrindo as plantações de cana, café e fumo. Ainda atônito, escutou gritos vindos de longe da casa de pau a pique em que morava com Seu Francisco e Dona Ana. Os gritos chegavam mais próximos. Eram seus primos, que estavam trabalhando nas roças do entorno e que corriam em direção a sua casa. Queriam encontrar a família… A ideia era morrerem todos juntos.
O eclipse solar total ocorrido daquele ano durou, exatos, cinco minutos. Cinco minutos de escuridão total. O fenômeno completo se estendeu por cerca de três horas e às 8h49 (começou às 7h19 e terminou às 10h26) o breu completo tomou conta do céu. Juntos, os meninos rezavam, pediam a Deus salvação. Já tinham ouvido falar sobre o fim do mundo nas missas e também nas rodas de conversa dos mais velhos. A lua pequenina, que se agigantara, escondeu o sol e, aos poucos, deixava novamente o astro rei entregar sua claridade sobre a terra.
O fim do mundo não chegou naquele dia nem nas dezenas de outras datas inventadas por religiosos e loucos. Aos 91 anos de idade e próximo dos 92, Seu Zeca lembra do episódio e sorri! Sorri como o menino de 13 anos de short de algodão e camisa desabotoada após a certeza de que o mundo não acabaria naquela manhã em que a noite engoliu o dia.
+++
#chicossauro_rex