O ferry Agenor Gordilho não tinha completado ainda 50 anos em atividade, mas foi parar no fundo do mar. Acho que poderia ter durado mais tempo. Grandes embarcações, com boa manutenção, têm prazo de validade muito maior.
Mas isso não vem ao caso. Viajei muito no velho Agenor Gordilho.
No início da década de 1980, era minha aventura preferida de adolescente atravessar a Baía de Todos os Santos para acampar nas Praias da Ilha de Itaparica. Moleque sem grana, com tempo curto (ajudava meu velho na feira ou no mercadinho nos intervalos dos estudos) e sem muitas opções de destino, acampar em Amoreiras, Aratuba, Conceição ou Barra do Gil era a melhor de todas as opções. Muitas vezes, o alimento principal eram mangas que tirávamos sem autorização de alguns quintais e o velho arroz fervido com água do mar, que servia também para cozinhar o ovo e os siris. Era uma única panela. Fazíamos tudo de uma só vez para facilitar.
Lembro que íamos de galera. Muitas vezes, na falta de barracas, dormíamos na areia mesmo, no relento. O importante era estar na Ilha sob aquele sol diferenciado.
Incrível, mas quase sempre coincidia a viagem no velho Agenor Gordilho, justamente o mais lento de todos. A ida em si, era uma farra. Para marcar território tínhamos nossos gritos de guerra para atravessar a passarela e embarcar no monstrengo de ferro.
Admito, entoava como ninguém o “grito de Tarzan”, que vinha seguido de imitações grotescas da galera de bichos da selva e até de mugidos, relinchar e berros. Vá entender. Já chegávamos no solo da ilha sem voz e embriagados de vinho barato, doce, dos garrafões de cinco litros. Era o que dava para comprar.
Um brinde ao velho Agenor Gordilho. Obrigado pelas lembranças
#Chicossauro_Rex
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