O ciclone Idai, que atingiu o sudeste da África, mas particularmente a costa de Moçambique com maior força, começa a revelar seus estragos uma semana depois.
Imagens do sistema de satélites da Agência Espacial Europeia mostram que cerca de 2.600 quilômetros quadrados de terra estão inundados apenas na região de Beira, em Moçambique. É como se todo o município do Rio de Janeiro estivesse sob as águas.
Os números da destruição causada pelo fenômeno impressionam. Apenas nas províncias de Sofala e Manica — as mais afetadas pelo ciclone — são 109.528 pessoas diretamente afetadas, o que equivale a 32.212 famílias. São pelo menos 1.420 feridos e 242 mortos
No que diz respeito à infraestrutura, 616 salas de aulas foram destruídas, 14.310 alunos estão sem aulas, 4.363 casas foram parcialmente destruídas, enquanto 11.025 casas foram totalmente destruídas e outras 2.056 casas estão embaixo d’água.
Esses dados foram divulgados pela Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), que auxilia no resgate e no apoio às vítimas.
A ONU já considera que o ciclone pode ter sido o “pior desastre climático que se abateu sobre o hemisfério sul”.
O ciclone segundo a meteorologia
A meteorologista Heloísa Pereira, da Somar Meteorologia, explica que o fenômeno se formou sob o continente e foi se dirigindo ao leste, para chegar ao oceano.
A cidade de Beira ficou devastada — como mostram as imagens de satélite — porque, ao chegar na região costeira, a umidade do oceano alimentou a potência do ciclone.
“Ciclones como esse são causados por áreas de baixa pressão atmosférica, provocada por umidade e calor ali na região. Ele se formou no continente e foi ganhando intensidade conforme seguia para o oceano”, conta.
Ela esclarece ainda que a temporada de ciclones no hemisfério sul acontece de março a maio, quando o verão já aqueceu as água dos oceanos.
Segundo Pereira, fenômenos assim são comuns já que essa região do sul da África é muito quente e cercada de água por todos os lados. Ou seja, preenche todos os requisitos para que ciclones assim se formem.
A especialista ainda revela que, por mais que esteja em latitudes semelhantes com o do Brasil, fenômenos com essa mesma intensidade são mais raros no Brasil.
Levando em conta a América do Sul como um todo, ciclones são mais comuns no Paraguai e no norte da Argentina.
Por que o Idai foi tão destrutivo
Se comparado com o furacão Florence e o furacão Michael, que atingiram os EUA no ano passado, o ciclone Idai já matou pelo menos o triplo de pessoas até o momento.
Heloísa Pereira explica que os órgãos de meteorologia de Moçambique já deviam ter identificado o fenômeno há algumas semanas, mas que a força do ciclone foi maior do que o esperado.
Ela garante também que a construção de grandes cidades com pouco planejamento nas orlas, assim como as mudanças climáticas contribuíram para a intensidade do Idai.
R7