O cientista chinês He Jiankui, conhecido em nível mundial após ter afirmado em novembro de 2018 ter conseguido criar os primeiros bebês manipulados geneticamente para resistir ao HIV, atuou de forma ilegal, segundo os resultados de uma investigação preliminar divulgados nesta segunda-feira (21).
Segundo a agência estatal “Xinhua”, estas investigações, realizadas pelas autoridades da província de Cantão (sudeste), onde He trabalhava, mostram que o cientista “realizou a pesquisa ilegalmente para conseguir fama pessoal e lucro”.
“He evitou a supervisão, arrecadou fundos e organizou especialistas por sua conta para realizar a pesquisa sobre edição genética de embriões humano com fins reprodutivos, algo que é proibido pela lei chinesa”, aponta a breve nota.
A televisão estatal CGTN assegura que as autoridades “prometeram atuar de forma estrita com He Jiankui”.
Por sua vez, o jornal de Hong Kong “South China Morning Post” acrescenta que os investigadores descobriram que He contou com cientistas estrangeiros em sua equipe e o acusou de “utilizar tecnologia de segurança e efetividade incerta”.
A informação oferecida pelo jornal independente assegura que, entre março de 2017 e novembro de 2018, He falsificou vários documentos e atraiu oito casais para participar do experimento, conseguindo duas gestações.
Segundo esta versão, uma das mulheres teria dado à luz a gêmeas apelidadas de Lulu e Nana – que o Governo de Cantão manterá sob supervisão médica -, enquanto a outra ainda estaria grávida de um bebê modificado geneticamente.
As investigações começaram em 29 de novembro de 2018, apenas três dias depois que He realizou seu anúncio.
Naquele dia, o cientista afirmou ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo sem nenhum tipo de apoio institucional e dias depois justificou seu experimento, apesar da controvérsia que gerou entre o público e a comunidade científica internacional dentro e fora da China.
Dois dias depois, em uma conferência na Universidade de Hong Kong – sua última aparição pública -, He se mostrou “orgulhoso” pelo uso da técnica de edição genética CRISPR/Cas9 nas gêmeas e disse que o estudo não tinha o objetivo de eliminar doenças genéticas, mas de “dar às meninas a habilidade natural” para resistir a uma possível futura infecção do HIV.
A Universidade de Shenzhen (sudeste), na qual He trabalhou, anunciou que também investigaria o cientista e afirmou se sentir “profundamente comovida pelo caso”, que qualificou como “uma grave violação da ética e dos padrões acadêmicos”.
Mais de 120 acadêmicos da comunidade científica chinesa assinaram em uma declaração em 26 de novembro de que “qualquer tentativa” de fazer mudanças em embriões humano mediante modificações genéticas é “uma loucura” e que dar à luz a estes bebês teria “um alto risco”.
R7