Um estudo feito por cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e publicado nesta quarta-feira (22) na revista Nature, mostra pela primeira vez como o estresse nos leva a ter cabelos brancos.
A equipe chefiada pela professora Ya-Chieh Hsu, do Departamento de Células-Tronco e Biologia Regenerativa, concluiu que o estresse ativa os nervos que fazem parte da resposta de luta ou fuga do organismo, que por sua vez causam danos permanentes às células-tronco regeneradoras de pigmentos nos folículos capilares.
“Todo mundo tem uma anedota para compartilhar sobre como o estresse afeta seu corpo, principalmente na pele e no cabelo — os únicos tecidos que podemos ver de fora. Queríamos entender se essa conexão é verdadeira e, em caso afirmativo, como o estresse leva a alterações em diversos tecidos. A pigmentação capilar é um sistema tão acessível e tratável para começar — e além disso, estávamos genuinamente curiosos para ver se o estresse realmente leva a cabelos grisalhos”, afirmou a pesquisadora.
Pelo fato de o estresse afetar todo o corpo, os cientistas precisaram descobrir qual sistema atuava na cor do cabelo. Inicialmente, cogitou-se que poderia ser uma reação do sistema imunológico.
Os pesquisadores então removeram a glândula adrenal, que produz o hormônio cortisol, dos camundongos estudados, mas eles continuaram a ter pelos grisalhos quando submetidos a estresse.
Foi após descartar diferentes possibilidades que a equipe chegou ao sistema nervoso, mais precisamente aos nervos simpáticos.
Em momentos de estresse, os nervos simpáticos liberam noradrenalina, que é absorvida pelas células-tronco regeneradoras de pigmento.
A partir disso, eles constataram que certas células-tronco agem como uma espécie de reservatório de células pigmentosas capilares. Ao longo da vida, quando o cabelo cresce, essas células-tronco se convertem em células produtoras de pigmentos.
A noradrenalina que se ativa excessivamente quando nos estressamos cria uma espécie de ativação excessiva dessas células-tronco, fazendo com que todas se convertam em células pigmentosas, o que esgota prematuramente o reservatório.
“Quando começamos a estudar isso, eu esperava que o estresse fosse ruim para o corpo, mas o impacto prejudicial do estresse que descobrimos estava além do que eu imaginava”, disse Hsu.
“Depois de apenas alguns dias, todas as células-tronco regeneradoras de pigmentos foram perdidas. Depois que elas desaparecem, você não pode mais regenerar o pigmento. O dano é permanente”, explica a professora.
Hsu acrescenta que essa descoberta abre as portas para que estudos futuros entendam mais profundamente como o estresse afeta outros órgãos e tecidos do corpo.
“Compreender como nossos tecidos mudam sob estresse é o primeiro passo para um tratamento eventual que pode interromper ou reverter o impacto prejudicial do estresse. Ainda temos muito a aprender nessa área.”
R7