Há cinco anos, no dia 8 de julho de 2014, um jogo de futebol foi capaz de simbolizar uma era e se tornar um marco para uma série de recordes negativos, relacionados à seleção brasileira, até então uma das representantes quase intocáveis daquilo que o País tinha de melhor.
O placar de 7 a 1 na derrota para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2014, no Mineirão, foi uma ironia neste sentido. Mas, no geral, não foi uma coincidência.
Nem mesmo o título da Copa América, apesar de ser um importante avanço neste momento, ainda é capaz de fazer a equipe superar o trauma. Isso aconteceria somente com o título de uma Copa do Mundo, com a seleção voltando a se sobrepor à escola europeia.
Além dos milhares de memes, a goleada originou vários termos novos, como Mineiraço, em alusão à derrota de 1950 do Brasil para o Uruguai, no Maracanã, chamada de Maracanaço. Tornou-se, em poucos dias, o evento esportivo mais comentado nas redes sociais na história da Internet, com a publicação de 35.6 milhões de tweets a respeito.
E passou a se relacionar com todas as mazelas vividas pelo Brasil desde então. Assim que algo de errado se via, na política ou em qualquer outra área, logo vinha a fatídica frase: “Foi um 7 a 1”. Ou outra, também ilustrativa: “Gol da Alemanha.”
Vários ingredientes se misturaram, compondo, na plenitude, uma fórmula fatal, que provocou, entre outros recordes, a maior derrota de uma seleção em uma semifinal de Mundial. Erros táticos, fragilidade emocional, desfalques, bom nível do adversário e até questões de identidade dos jogadores em relação ao País foram temas de palestras, estudos e até teses acadêmicas.
O jogo
O jogo se tornou um capítulo a ser desvendado. Na Wikipedia, é tratado como um acontecimento, com, após a introdução, a divisão de itens: Atencedentes; Partida (Primeira e Segunda etapas); Detalhes; Estatísticas; Recordes; Pós-Jogo, Consequências; Reações e Na cultura popular.
Quando o duelo se iniciou, parecia que iria ser uma partida normal. A seleção brasileira partiu para o ataque, tentou alguns cruzamentos com Marcelo, buscou voltar para a marcação. Mas bastou o gol de Müller, aos 11, após fugir da marcação de David Luiz, para o time brasileiro literalmente ruir em campo.
Algo misterioso, profundo, envolveu naquele momento o Mineirão, como uma substância invisível que paralisou os brasileiros e, ao mesmo tempo, inflou os alemães. Com buracos na marcação do meio-campo, que levaram o volante Fernandinho a, injustamente, ser considerado um dos vilões do jogo, o Brasil foi levando mais gols.
Em seis minutos, o placar ficou 5 a 0 para a Alemanha. Miroslav Klose aos 23 minutos (quando ultrapassou Ronaldo como o maior artilheiro em Copas); Toni Kroos (eleito o craque do jogo) aos 24 e 26, e Sami Khedira aos 29, fizeram a partida parecer uma pelada de fim de ano.
No intervalo, as ruas, lares, bares e até redações de jornais brasileiros experimentaram um estado que beirava a loucura. De um lado o delírio causado pela situação surreal: dá para virar? De outro, a pontada lancinante da realidade: não e estamos vivendo o início de um pesadelo, que ficará marcado para a história do futebol brasileiro.
No segundo tempo, com todos extasiados, Schürrle, fez o sexto e o sétimo, aos 24 e 34. Oscar descontou aos 45, deixando o goleiro Neuer muito irritado, e diminuindo a maior desvantagem no placar na história das Copas.
O que viria no futuro? Até hoje os brasileiros se perguntam. E, em meio a um momento turbulento, ainda experimentam a mudança dos tempos que, implacável, sufocou aquilo que o País tinha como sua menina dos olhos: a bola, em um jogo de futebol.
Essa menina, feliz e infelizmente, era também um retrato de parte de uma sociedade que, a partir de então, se assumiu abatida em sua autoestima. E, enquanto nada de novo acontece, para reverter esse momento ainda difícil, em cada tragédia, em cada dor deste difícil ano de 2019, os brasileiros ainda são levados a dizer: “Foi um 7 a 1.”
R7