A primeira cirurgia torácica robótica do Brasil foi realizada há 10 anos. No entanto, o primeiro trabalho científico sobre a aplicação desta modalidade minimamente invasiva no tratamento do câncer de pulmão no país só foi publicado em 2016. A maior série nacional descrita até agora, publicada este ano, incluiu um total de 154 procedimentos. A segurança e os resultados positivos demonstrados pelos dados apresentados têm levado à ampliação do uso do robô em pacientes com tumores pulmonares, inclusive na Bahia, onde o crescimento desse tipo de cirurgia é notório. Os dois primeiros sistemas robóticos chegaram em Salvador no ano passado. Antes da expansão da tecnologia para o interior do estado, novas plataformas robóticas ainda devem ser instaladas na capital baiana.
Além de promover uma recuperação mais rápida, com menor risco de complicações e menos dor no pós-operatório, a cirurgia robótica para tratamento do câncer de pulmão facilita a retirada dos linfonodos pulmonares, trazendo melhorias quando comparada ao procedimento videolaparoscópico ou à cirurgia aberta (convencional). Segundo o cirurgião torácico Pedro Henrique Leite, os linfonodos são gânglios linfáticos que funcionam como um filtro de células do tumor que podem se espalhar pelo corpo. “Sua retirada é fundamental para definir o grau de extensão da doença, interferindo diretamente no tratamento e na chance de cura do paciente”, explicou.
O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. O cigarro é, de longe, o mais importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão.
A alta mortalidade do câncer de pulmão não se deve apenas à gravidade da doença, mas pode ser explicada também pelo atraso no diagnóstico. Apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado). Isso ocorre porque o câncer de pulmão não costuma causar sintomas na sua fase inicial. Daí a importância da prevenção, através da cessação do tabagismo e de um acompanhamento médico rotineiro. O rastreamento do câncer de pulmão em pacientes com fatores de risco deve ser feito anualmente através de tomografia de tórax, para detecção precoce da doença. Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores são as chances de cura.
Cirurgia torácica robótica – A aplicação da tecnologia robótica no campo das cirurgias torácicas tem papel fundamental não apenas no tratamento do câncer de pulmão, mas também ao operar “tumores do mediastino (espaço localizado atrás do osso esterno, entre os dois pulmões), miastenia gravis (doença autoimune em que a comunicação entre os nervos e os músculos é afetada, produzindo episódios de fraqueza muscular) e doenças do diafragma (músculo da respiração)”, destacou Pedro Henrique Leite, que é especialista em Cirurgia Torácica Oncológica e Minimamente Invasiva e em Cirurgia Torácica Robótica.
Só no Hospital São Rafael/Rede D’or, onde Pedro Henrique Leite atua como cirurgião torácico, em cerca de um ano da implantação do robô, foram realizados 200 procedimentos robóticos. “Mesmo durante a pandemia, as cirurgias robóticas mais urgentes foram mantidas. A expectativa é que esse número cresça ainda mais rápido, devido ao notório benefício da tecnologia ao paciente associado ao conhecimento da população sobre a cirurgia robótica”, disse o médico.
A cirurgia robótica é uma modalidade cirúrgica minimamente invasiva avançada. Ela é realizada através de pequenos orifícios na parede torácica, utilizando instrumentos finos, delicados e com auxílio de uma câmera de vídeo. A plataforma robótica proporciona ao cirurgião uma visão mais ampliada e em 3D, superior à imagem da videocirurgia. Além disso, os movimentos das pinças são mais amplos e precisos. Esses diferenciais tornam a cirurgia mais segura e eficiente, melhorando consideravelmente os resultados cirúrgicos, com uma recuperação pós-operatória mais rápida, período de internação hospitalar mais curto, com menos dor e retorno precoce às atividades diárias normais.