Conforme a pandemia do novo coronavírus foi se desenrolando, vários estudos ao redor do mundo foram feitos para descobrir se algumas das substâncias existentes no mercado são eficazes para tratar a covid-19, dentre elas a cloroquina, medicamento que está no centro do debate científico atual. Em pouco tempo, a cloroquina se tornou a principal aposta para tratar a infecção cansada pelo vírus e apontada como uma droga promissora.
No Brasil, o uso do medicamento foi autorizado pelo Ministério da Saúde para tratar a doença desde o estágio inicial até o mais grave. Porém um estudo feito em larga escala, publicado na última sexta-feira (22.05) pela revista médica The Lancet, uma das mais importantes do mundo, apontou que o uso da substância para o tratamento da covid-19 não é eficaz, e pode causar graves complicações cardíacas, como arritmia. A pesquisa reuniu 96 mil voluntários de diferentes países, dos quais 15 mil receberam o remédio, associado ou não com o uso do antibiótico azitromicina, outra substância que também está sendo testada para combater a covid-19. Segundo a Infectologista e professora de infectologia Clarissa Cerqueira, o estudo é relevante, porque mostra os efeitos da substância em um grupo diverso de pessoas, o que diminui os erros. “É um estudo que não possui um viés, coisa que aconteceria se os testes tivessem sido realizados em um único lugar. Nesse caso, foi usado um número enorme de voluntários, de vários lugares”, disse.
“O estudo traz de forma clara os riscos de morte para quem usa o medicamento. Acredito que isso pode fazer com que instituições de saúde e até mesmo as pessoas rejeitem o uso da cloroquina. As pessoas estão mais atentas sobre os efeitos colaterais do tratamento”, aponta a infectologista. Para ela, a prioridade é ter uma medicação que reduza a mortalidade e/ou o tempo de internação dos pacientes graves. “Estes são benefícios clínicos que vão fazer a diferença na vida das pessoas”, completa.
Tanto a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS), não recomendam o uso do medicamento por justamente não ter uma comprovação científica sobre os benefícios da cloroquina para esse caso. Mas a SBI orienta que, caso o médico opte por prescrever o remédio para o paciente infectado pelo novo coronavírus, ele deve esclarecer sobre todos os riscos, com a assinatura de um termo de consentimento.
OMS suspende testes – A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta segunda (25.05) que suspendeu os testes com a hidroxicloroquina, medicamento para malária, em pacientes com covid-19 em razão de questões de segurança. O Ministério da Saúde no entanto mantém a indicação da cloroquina. Na semana passada, o MS incluiu a cloroquina, e seu derivado hidroxicloroquina, no protocolo de tratamento para pacientes com sintomas leves de covid-19 no Brasil. De acordo com o novo protocolo, cabe ao médico a decisão sobre prescrever ou não a substância, sendo necessária também a vontade declarada do paciente, com a assinatura do Termo de Ciência e Consentimento.