Em mais uma etapa do complicado processo eleitoral dos EUA, os delegados do Colégio Eleitoral se reunirão em seus Estados de origem nesta segunda-feira (14) para ratificar os resultados da eleição presidencial do último dia 3 de novembro. O democrata Joe Biden deve obter a maioria dos votos e vencer o atual presidente, Donald Trump.
Os envelopes, no entanto, serão lacrados e enviados para o Congresso, em Washington. Lá, logo após tomar posse, no dia 6 de janeiro, os parlamentares da Câmara dos Representantes vão abrir e contar os votos, encerrando definitivamente a eleição. A posse está marcada para 20 do mesmo mês.
Na última sexta-feira, a Suprema Corte dos EUA rejeitou um último recurso, pedido pelo procurador-geral do Texas, Ken Paxton, e apoiado por outros Estados governados por republicanos, por congressistas do partido e pelo próprio Trump. Com isso, a votação do Colégio Eleitoral deve prosseguir normalmente.
Para o professor de Relações Internacionais do IBMEC-RJ, Leonardo Paz, a última cartada dos republicanos para buscar, no tapetão, a reeleição de Trump, demonstra a cada vez mais profunda divisão na política norte-americana.
“Acho que isso marca uma polarização ainda mais forte. É uma irresponsabilidade porque fica minando a fé das pessoas no processo eleitoral, mas ao mesmo tempo mantém o Trump relevante, ele teve uma votação muito expressiva”, afirma Paz, que vê na manutenção das instituições a principal consequência dessa decisão.
“(O processo) não teria chance de vingar, mas ele tentou por todos os caminhos possíveis. O importante foi o posicionamento da Suprema Corte, foi a segunda ação que chegou lá e foi rapidamente negado, inclusive pelos três juízes indicados por Trump”, analisa.
Segundo o professor, a votação do Colégio Eleitoral deve transcorrer normalmente, inclusive por conta de uma outra decisão da Suprema Corte, que obriga os delegados dos Estados a votar no candidato que venceu a votação popular. Em outras eleições, já houve delegados que mudaram votos, mas em uma escala que não afetou o resultado geral.
Outra decisão importante e que pode definir os rumos dos dois primeiros anos do mandato de Biden acontece no dia 5 de janeiro: a eleição especial das duas vagas do Estado da Geórgia no Senado.
“Se os democratas vencerem, ficam com uma rara maioria tríplice, com a presidência, a Câmara e o Senado. Isso ajudaria demais o partido e o presidente, que pode aprovar vários projetos com facilidade”, explica Paz.
Projetos como a inclusão de representantes de Washington (DC) e Porto Rico no Congresso poderiam sair do papel. “Isso que tira o sono dos republicanos, porque seriam mais dois Estados em que os democratas vão bem e que podem desequilibrar o Colégio Eleitoral por vários anos”, ressalta o professor.
Desde a década de 1990, o único candidato republicano a vencer no voto popular foi George W. Bush, em 2004. O próprio Bush, em 2000, e Trump, em 2016, perderam na contagem geral da eleição, mas conquistaram a presidência graças ao Colégio Eleitoral. Todas as outras eleições foram vencidas pelos democratas.
R7