Há muitos anos, e confesso não lembrar de quem foi, ouvi uma dica de um amigo radialista: “quando falar no ar, e perceber que errou, não corrija. Fale o certo depois e deixe a dúvida com o ouvinte.” Em resumo: jogue a culpa no ouvido de quem está do outro lado do radinho. Faz tempo isso, ainda existia o radinho de pilha, mas atualmente o que vemos, lemos e ouvimos, nos mais diversos meios de comunicação, não é simplesmente uma mudança de informação, mas de opinião. E no atual Campeonato Brasileiro, chega a ser curioso o que temos percebido.
Quem é o favorito ao título do Brasileirão? A cada rodada surge um. Se olharmos a tabela, é óbvio que não dá para cravar um palpite. O Atlético Mineiro tem 39 pontos, em 22 jogos; o Grêmio, em oitavo lugar, tem 34, com um jogo a menos – mesma pontuação do Santos, o sétimo, com 22 partidas disputadas. Entre eles estão Flamengo, São Paulo, Internacional, Fluminense e Palmeiras. É um intervalo de pontos muito pequeno para tanta gente, sem dúvida.
Mas a questão é: até semanas atrás, o São Paulo, do Fernando Diniz, era o time que tinha sido eliminado duas vezes no Morumbi, da Libertadores e da Sul-Americana, e que não chegaria a lugar algum. O Grêmio, do Renato Gaúcho, perdeu toda força com a saída do Everton e ia priorizar a Copa do Brasil, sem chances no Brasileirão. O Palmeiras, desde a saída do Luxemburgo, desceria uma ladeira. O Internacional, sem o Coudet, acabou. O Flamengo errou ao contratar o Ceni, pois o time perdeu toda a liga deixada pelo Jesus. E o Atlético Mineiro é irregular e não tem time para se manter no topo por muito tempo.
Sejamos sinceros. Tudo isso foi ouvido nas últimas semanas nas mesas de debates, nas rádios e TVs. Assim como que o São Paulo está inovando, que o Atlético do Sampaoli apresenta o melhor futebol; que o Renato renovou o Grêmio; que o Palmeiras é outro; que o Flamengo voltou a 2019 etc.
E por quê? Porque as opiniões mudam de acordo com o resultado. É como se o rádio tivesse se transferido para todos os canais de comunicação e o ouvinte que fique ligado, atento, para acompanhar o que cada um diz, a cada rodada, ou jogo – já que Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores/Sul-Americana se alternam a cada quatro dias.
Existe culpado? Não, apenas as coisas ficaram mais velozes, e as redes sociais tem uma parcela de participação nisso tudo que acontece. De lá vêm as cobranças imediatistas, e alguns programas simplesmente repercutem o que vem de lá, dando espaço à voz do torcedor.
Se isso é certo ou errado, reconheço que não sei. Mas me incomoda essa volatilidade. E ela me faz lembrar de um comentarista, radialista, muito famoso: Ruy Porto. Tive o prazer de apresentar a mesa redonda da TVE, nos anos 80, em que ele participava, ao lado de Luiz Mendes, Achilles Chirol, Sergio Noronha e outros mestres. Tudo ia bem, quando o Ruy lançava uma opinião totalmente contrária no ar, e a discussão esquentava. No fim, ele vinha falar comigo: “eu não concordo com o que disse, mas falei pra provocar o debate”.
Grande Ruy Porto. Um gênio que provocava polêmica e recebia likes e retuítes, desde os tempos do radinho de pilha.
Agência Brasil