O país já registra 1.388 casos de sarampo este ano, sendo 95% deles nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná, que passam por surto da doença, segundo o Ministério da Saúde. Além dos casos confirmados, há ainda 6 mil em investigação.
A melhor forma de se proteger contra a doença é por meio da vacina tríplice viral, que também imuniza contra a caxumba e a rubéola, oferecida gratuitamente pelo SUS a pessoas entre 1 e 49 anos, e desde os 6 meses nos Estados com surto.
No entanto, grávidas não podem tomar a vacina tríplice viral. Como, então, devem se proteger da doença? A infectologista Rosana Richtmann, da Maternidade Pro Matre Paulista, explica que há três recomendações. A primeira é verificar se a gestante já não está protegida, ou seja, se tomou duas doses da vacina antes de engravidar. Essa checagem pode ser feita ao consultar a carteira de vacinação.
“A segunda é vacinar quem está à volta dessa gestante, como marido, filhos e pessoal do trabalho. Isso diminui o risco de transmissão da doença”, afirma.
A terceira, segundo ela, é evitar ambientes fechados com muitas pessoas. Como exemplo ela cita cinema, shoppings e transporte público lotado. “O melhor é que frequente lugares abertos, como parques. A ventilação é importante. O vírus pode ficar suspenso no ar por até duas horas”, explica.
“Mesmo locais com ar condicionado não há necessariamente uma troca de ar. Se a grávida trabalha em um lugar fechado, com ar condicionado, mas com pouca gente, não há problema, desde que todos estejam protegidos”, completa.
Profilaxia pós-exposição ao sarampo
Caso a gestante não tiver sido previamente vacinada e entrar em contato com alguém com sarampo ou com suspeita da doença, existe uma medida extraordinária de proteção, que é o uso da imunoglobulina, segundo a médica.
Trata-se de uma substância feita à base da extração de anticorpos do sangue de doadores. É aplicada via intravenosa. “A imunoglobulina não protege a vida toda, mas apenas por um tempo muito curto, porque não é a pessoa que está fabricando esses anticorpos, ela está ganhando de presente. Eles têm uma vida média e depois desaparecem. É para um momento de urgência”, afirma.
“Diferentemente da vacina, na qual o vírus atenuado, ao ser injetado, estimula o sistema inunológico a produzir anticorpos, o que demora cerca de duas semanas, a imunoglobulina já oferece um ‘pool’ de anticorpos prontos”.
A infectologista ressalta que é um produto completamente seguro, mas pouco disponível. “Só mesmo indicado nesses casos específicos”, diz. Segundo ela, pode ser utilizado em qualquer fase da gestação.
Resposta imune da grávida é mais fraca
A vacina tríplice viral não é indicada para gestantes porque é feita com vírus vivo enfraquecido e não apenas do sarampo, mas também da rubéola e da caxumba. “Vacinas com vírus vivo enfraquecido, por exemplo a tríplice viral e da febre amarela, são sempre contraindicadas para gestantes”, afirma.
Ela explica que, durante a gravidez, a mulher tem uma resposta imunológica diferente, podendo apresentar um quadro mais grave da doença. “Por exemplo: gripe em grávida é mais grave. O vírus influenza pode matar uma gestante. Qualquer doença infectocontagiosa na grávida costuma ser pior porque seu sistema imune responde de uma maneira mais insuficiente”.
No caso, o próprio vírus da vacina poderia afetar não apenas a gestante, mas também o feto, de acordo com a infectologista. “Dados sobre gestantes que tomaram inadivertidamente a vacina contra o sarampo, pois não sabiam que estavam grávidas, já mostraram que não aconteceu nada demais. Mas, por uma questão de segurança, para vacinas feitas com vírus vivo, deve se esperar 30 dias para engravidar”.
O principal dano para o feto, no caso da tríplice viral, está relacionado ao vírus da rubéola, segundo a médica, que pode causar má formação congênita ou abortamento espontâneo. “Isso é teórico. Como essas vacinas não são testadas em grávidas, elas devem ser evitadas por segurança”.
Exame mostra se gestante está protegida
Quem perdeu a carteira de vacinação pode fazer um exame de sangue para checar se tem a proteção contra o sarampo. A sorologia para o sarampo dosa a quantidade de anticorpos contra a doença. Deve ser solicitado por um médico.
O uso do álcool gel para higiene das mãos não é eficiente para a prevenção do sarampo. “O álcool gel ajuda em relação à contaminação do ambiente pela gripe. O vírus da gripe é muito mais de ambiente do que o do sarampo. O vírus do sarampo é diferente do vírus da gripe. Sua disseminação é muito mais fácil, por isso que o número cresce a cada semana”, diz.
Em meio ao surto atual de sarampo, vale mais do que nunca o bom senso das pessoas em relação a visitas de recéns-nascidos em maternidades, segundo Rosana. “Se a mãe tiver proteção contra o sarampo, ela passou anticorpos para o filho durante a gestação e vai continuar passando durante o aleitamento materno. Mas, se ela não tomou vacina antes de engravidar, então esse recém-nascido estará suscetível às visitas. Mas daí entra o bom senso”, afirma.
“Caso apresente algum sintoma de doença infecciosa como febre ou coriza, espera-se que a pessoa não vá à maternidade. Ninguém que esteja com uma suspeita de quadro infeccioso, seja de qualquer doença, deve visitar um recém-nascido”, completa.
R7