O Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo, porém também se destaca como um dos países que mais desperdiçam esses recursos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 30% dos alimentos produzidos no país são jogados fora anualmente, totalizando cerca de 46 milhões de toneladas.
Esse desperdício ocorre em diversas etapas, desde o manuseio e transporte até as centrais de abastecimento, devido a desafios logísticos, infraestrutura precária, condições climáticas adversas e até mesmo devido a critérios estéticos. Além disso, uma parcela significativa dos alimentos é descartada pelos consumidores, seja por compras em excesso ou pela falta de cuidado na conservação, por exemplo.
No caso dos consumidores, de acordo com a Gabriela Nóbrega, professora do curso de Nutrição da UNIFACS, o ideal é comprar frutas e legumes semanalmente, comprar apenas o necessário e, se possível, os alimentos da época. “Assim é possível encontrá-los com mais facilidade, menor preço e melhor qualidade”, destaca.
Como alimentos perecíveis têm uma quantidade de água mais elevada, eles precisam de cuidados maiores em sua conservação. No caso das folhas, algumas são mais resistentes em relação a outras. Conforme a professora, uma forma de fazer com que folhas, como manjericão e coentro com raiz, durem mais é colocar suas raízes em contato com água fresca, em local fresco, seco e arejado.
Couve folha, alface, repolho, acelga e rúcula, por exemplo, após serem higienizadas e de secá-las em papel toalha, podem ser guardadas, separadamente, em vasilhas com papel toalha no fundo. “É bom lembrar que cada tipo tem um tempo de maturação diferente. Dependendo da folha, dessa forma, ela dura de três a seis dias na geladeira”, diz Gabriela Nóbrega.
Frutas climatéricas
Sobre as frutas climatéricas, que continuam o processo de amadurecimento, mesmo depois de colhidas, a nutricionista diz que, além de comprá-las em quantidade que, de fato, vai consumir, é possível usar a criatividade para que o alimento não fique de lado e acabe estragando. São exemplos desse tipo de fruto: ameixas, tomate, kiwi, caqui, pera, maracujá, maçã, abacate, melão, banana, manga e mamão.
“Os alimentos mais sensíveis podem ir para a geladeira. Uva, kiwi e ameixa fresca, por exemplo, podem ser armazenados na geladeira em sacos transparentes e nunca usados ou, se usados, higienizados. É importante retirar o máximo possível do ar dos sacos ou usar potes herméticos. No caso do mamão, para quem mora sozinho, uma opção é o papaya, por ser menor. No caso do mamão formosa, por ser maior, a opção é fazer um corte que tenha menos superfície de contato e cobrir a parte do corte com plástico filme ou colocar o fruto em pote hermético e, em seguida, levá-lo à geladeira”, indica Gabriela Nóbrega.
Ela diz que ameixa, por exemplo, pode ser desidratada para ter uma maior durabilidade e usada em receitas como manjar e bolo. Tomate pode ser transformado em Katchup natural ou molho de tomate e congelado. O congelamento de frutas, conforme a docente da UNIFACS, é uma estratégia interessante. “Depois, elas podem ser usadas para preparar sucos, drinks, mousses, geleias, bolos, doces e vitaminas, por exemplo”, diz.
Frutas não-climatéricas
A respeito dasfrutas não-climatéricas, que não amadurecem após a colheita, Gabriela Nóbrega diz que o ideal é higienizá-las, se possível, apenas na hora de consumi-las e deixá-las, ao máximo, fora da geladeira. É o caso do limão, do coco, romã, melancia, abacaxi e laranja, por exemplo. “Se perceber que estão mudando de aspecto, coloca na geladeira para aumentar a vida de prateleira do alimento”, indica.
Desidratação e congelamento
A professora diz que, no caso de ervas e frutas, uma técnica interessante é a da desidratação. “Salsa e orégano podem ser desidratados e armazenados em potinhos. Abacaxi, uva, banana, manga, jaca e outros podem ser desidratados e consumidos posteriormente”, indica.
Conforme Gabriela Nóbrega, o congelamento também é uma boa saída contra o desperdício. “Frutos podem ser congeladas tranquilamente. O abacate, por exemplo, após congelado, pode virar suco, guacamole e mousse. A banana pode ser usada no preparo de doces, como o cartola, bolo, entre outros. Manga, pode virar geleia, salada de frutas, sucos e vitaminas”, salienta.
Na hora do armazenamento, a especialista diz que é importante lembrar de, sempre que possível, optar por vasilhas de vidro ou embalagens plásticas livres de BPA (Bisfenol A) por conta de seu potencial cancerígeno. No mais, a ideia, frisa a professora, “é que seja bonito na mesa e eficiente no lixo, com foco no aproveitamento, sustentabilidade e consciência alimentar”.
Branqueamento
Ao notar que comprou além do necessário, uma saída, também, é usar a técnica do branqueamento. Trata-se da imersão da hortaliça em água fervente por um breve tempo, seguido da imersão em água gelada pelo mesmo período. Cumprido o tempo de resfriamento, deve-se escorrer a água. Dá para fazer com mandioquinha, milho, batata, inhame, aipim, cenoura e brócolis, por exemplo.
Gás etileno
Frutas e vegetais emitem um gás natural e sem cheiro chamado de etileno. Quando alimentos que produzem esse gás em maior quantidade entram em contato com outros que o produzem em menor quantidade, pode acelerar o processo de amadurecimento daqueles produtos. “Maçã, banana, tomate, abacate, melão, manga, pêssego, ameixa e batata, por exemplo, produzem bastante etileno. Por outro lado, couve-flor, repolho, pepino, folhas verdes, abóbora, abobrinha e brócolis, são sensíveis ao gás. Então, é bom deixá-los separados para evitar o amadurecimento mais acelerado”, sugere Gabriela Nóbrega.
Mofo
No caso de alimentos com mofo, a professora da UNIFACS é enfática: “nesse caso, não se pode desprezar apenas a parte com mofo. Ele está contaminado e é importante descartá-lo por completo. Para evitar desperdício, se não puder consumir no momento, for passar uns dias fora de casa ou algo do tipo, é importante congelar, branquear ou desidratar”.
Dicas
Para evitar desperdício, reunimos as seguintes dicas:
– Comprar vegetais e frutas sem machucados;
– Se não for consumir logo, evite comprar alimentos muito maduros;
– Se preciso, use as técnicas de congelamento, branqueamento e desidratação;
– Congele em porções fáceis de descongelar;
– Cheque a temperatura da geladeira. Para frutas e vegetais, temperaturas abaixo dos 5ºC são ideais;
– Consuma os alimentos que foram comprados a mais tempo e não os comprados mais recentemente;
– Produtos que ficam fora da geladeira precisam da circulação de ar. Então, não os coloque em sacolas plásticas ou potes com tampa.
– Produtos dentro da geladeira devem ser mantidos em potes bem fechados, sem a entrada de ar para evitar seu apodrecimento.