As temperaturas registrarão 5ºC acima da média, de acordo com o órgão. Nesta segunda, as cidades de Água Clara, em Mato Grosso do Sul, e em Nova Maringá, em Mato Grosso, alcançaram a marca de 44,6°C. O recorde histórico é 44,7°C foi obtido em Bom Jesus do Piauí, em 21 de novembro de 2005.
O cardiologista Marcelo Sampaio, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que essa condição ambiente também eleva a temperatura do corpo, fazendo com que ela fique próxima aos 40 °C – quando o normal varia entre 36 e 36,7 ºC. Esse fenômeno se chama hipertermia e desencadeia uma série de alterações nos sistemas circulatório, nervoso, imunológico e endócrino.
“Tudo vai depender da parte [do corpo] exposta, do contexto e do tempo de exposição Se você passar mais de uma hora em temperaturas elevadas ao ar livre, ja pode ter [hipertermia]. Se estiver em uma sauna com temperatura muito alta, você pode ter em 15 minutos”, afirma.
As áreas do corpo que devem ser mais protegidas são cabeça, tórax e abdome.
“Caso a pessoa não saia desse ambiente ela pode ter sintomas comportamentais e até entrar em coma. Além disso, existe uma desidratação, porque vai perder a água interna do organismo”, ressalta.
Para os adultos, os maiores riscos são complicações cardiovasculares, como infarto e AVC (Acidente Vascular Cerebral), que podem levar à morte. Mas acontece com quem já tem alguma predisposição para isso ou histórico de doenças relacionadas.
“O sangue engrossa por causa da perda de seu conteúdo líquido e vai formando coágulos, que vão entupindo as artérias. Se eles forem formados nas artérias coronárias [que levam sangue ao coração], vai dar infarto. Se for na região cerebral, vai dar AVC”, descreve.
O médico também destaca que pode ocorrer arritmia, inclusive em sua extrema, chamada de “fibrilação ventricular”. “Se a pessoa não for atendida na hora, ela morre”.
“Agora, se você me perguntar: a pessoa saudável pode morrer? Sim, se ela for, por exemplo, fazer exercício no deserto”, acrescenta.
O sistema endócrino, por sua vez, libera uma série de hormônios, como o cortisol -conhecido por ser responsável pelo estresse – a fim de reestabelecer o equilíbrio do organismo. “Toda vez que fazemos algo contra o corpo humano, ele tenta corrigir, mas se não funciona, essas substâncias passam a ser tóxicas”, pondera Marcelo.
A exposição prolongada ao calor intenso também enfraquece o sistema imune e, assim, deixa o indivíduo mais vulnerável a infecções. De acordo com o especialista, uma infecção bacteriana da pele chamada erisipela é muito frequente nas pessoas que estão em altas temperaturas.
Ainda segundo ele, convulsões são raras em adultos. Crianças são mais suscetíveis porque não têm uma barreira hematoencefálica formada, que protege o sistema nervoso central e impede, por exemplo, que o cérebro seja afetado pela alta temperatura do sangue.
Para evitar riscos à saúde em dias de calor intenso, o cardiologista recomenda não praticar exercícios quando o sol estiver a pino – por volta do meio-dia e uma da tarde -, usar roupas claras e leves, tomar bastante água e consumir frutas como melão e melância, para manter a hidratação.
“Além disso, é preciso ter cuidado com bebidas alcoólicas, porque favorecem a desidratação, e comidas de alto teor calórico ou gordurosas, pois isso vai fazer com o sistema digestivo precise de mais sangue para trabalhar e isso acentua a queda de pressão”, conclui.