Quando eu era garoto, gostava de acompanhar o ranking dos carros mais vendidos. Apaixonado que era pela Fiat, torcia pela improvável virada da fabricante italiana sobre a Volkswagen – algo que viria a se concretizar anos mais tarde.
Hoje, tenho outra visão, pois entendo que nem todo campeão de vendas é a melhor opção disponível. Entretanto, quem está no topo consegue entregar aquilo que o consumidor espera, seja custo, benefício ou qualquer outro fator emocional.
Separei cinco campeões de vendas, de cinco categorias diferentes, e fiz uma análise de como eles se posicionam no mercado e por que ocupam posição destacada.
Confira:
Chevrolet Onix/Prisma
O pequeno da Chevrolet é líder absoluto. Para mim, conquistou o mercado por unir mecânica eficiente, robusta e barata num pacote atraente. É mais espaçoso e melhor acabado que o Celta e mais bonito que o Agile – dois GMs que já se foram.
Vai muito bem no mercado de usados porque tem baixo índice de desvalorização. O comprador de usado se preocupa muito com custo de manutenção e consumo de combustível, algo satisfatório no Onix.
Já procurei Onix para clientes, e a maioria deles optou pelo 1.4 automático. Essa configuração não é barata, mas tem pouca concorrência entre os automáticos de verdade. Ponto para a GM, que sempre atendeu esse mercado – desde o Chevette automático, passando pelo Corsa sedã automático, e agora o Onix.
Toyota Corolla
O Corolla é hoje o que foi o Monza no passado. Digo isso em número de vendas. O sedã médio da GM chegou a ser o carro mais vendido do Brasil, mas não conseguiu fazer sucessores tão competentes. Atualmente, a categoria está na mão dos japoneses, e quem a domina é o sedã da Toyota.
Costumo dizer que o Corolla não é o melhor em nada, mas é acima da média em tudo. Por isso é campeão de vendas. No mercado de usados, inclusive, é tão bom que normalmente é vendido acima da tabela Fipe. E se você é do tipo que não aceita pagar a mais, nem perca seu tempo com o Corolla. O vendedor não vai ceder no preço, pois sabe que alguém irá aceitar pagar o valor pedido.
Para mim, avaliar e comprar Corolla são atribuições tão comuns quanto escovar os dentes. É impressionante o número de clientes que me contrata para que eu encontre esse modelo – na maioria das vezes, inclusive, nas versões top de linha SE-G e Altis.
Honda HR-V
Se o País está em crise, o mesmo não se pode dizer da categoria dos pequenos SUVs. O Ford EcoSport se viu sozinha por muitos anos, até chegar a forte concorrência de Duster, HRV e Renegade. Mas no caso do “jipinho” da Honda, o apelo emocional é decisivo. O carro foi muito bem desenhado e agrada a maioria sem ser conservador.
Destaco as belas lanternas, o recurso de esconder as maçanetas traseiras e a ausência do estepe pendurado na tampa do porta-malas. Tudo isso, juntamente com a boa imagem da marca, faz do Honda HRV um verdadeiro campeão de vendas.
O mercado de usados desse modelo também é forte. Como seu desenho não foi alterado, o usado é igual ao novo. É entrar num classificado com o preço certo que ele é vendido na mesma hora.
O consumidor de usado valoriza o fato de o HRV ter a mecânica dos Civics 1.8, conhecida pela robustez e economia. Posso errar, mas arrisco dizer que, no mercado de usados, a procura por ele será sempre maior que a procura pelo Renegade.
Até agora, tive poucos clientes que me pediram HRV. Mas tenho certeza que, com mais alguns anos de mercado, quando já for mais difícil encontrar modelos em bom estado, muitos passarão a me contratar com esse objetivo. Confirmo futuramente!
Fiat Strada
Com cerca de 20 anos de mercado na mesma geração, a pequena picape da Fiat ganha numa categoria que o consumidor é bem exigente, pois utilitários geralmente são usados para trabalho pesado.
Aqui, o consumidor valoriza custo por quilômetro rodado e boa liquidez na venda. Nisso, ela é competente. Mas acho que sua principal virtude é oferecer várias opções de carrocerias. Impressiona-me a lerdeza da concorrência em oferecer algo similar!
No mercado de usados, o consumidor procura qualidade mecânica em detrimento da estética. Afinal, ele sabe que é difícil encontrar utilitários em bom estado. Portanto, o cliente quer algo que atenda a necessidade de transporte, apenas.
Por outro lado, no caso das versões mais luxuosas, com cabine estendida ou dupla, é mais fácil encontrar um “exemplar” usado apenas para passeio.
Fiat Toro
Se a Renault Duster Oroch teve o mérito de inaugurar o segmento das picapes derivadas de SUVs pequenos, a Toro, mesmo tendo chegado depois, pode se orgulhar de ter conquistado o topo sem pedir licença.
Diferentemente da Strada, ela é exclusiva com cabine dupla e câmbio automático, deixando claro que o público-alvo não é quem procura carro para trabalho. Considero o motor 1.8 inadequado para esse veículo pesado. Portanto, concluo que o sucesso está no design, diferente de tudo que tínhamos. A Fiat mandou muito bem nisso!
É cedo para analisar o mercado de usados da Toro, já que ela foi lançada há pouco tempo. Mas parece fácil prever que o modelo vai se dar bem. Boa parte dos motoristas gosta desse estilo de carroceria, mas estava longe de conseguir comprar uma picape média como a Hilux, S10 ou Ranger. A Toro aproximou o consumidor desse segmento.
uol