Escrita e reescrita pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956) – ao longo de mais de três décadas – a versão final da peça “Homem é Homem” (do título original “Mann ist Mann) foi publicada em 1953, após diversas adaptações de contexto histórico, político e social. No enredo, a inusitada história de um estivador chamado Galy Gay que sai de casa para comprar um peixe e, entre outras reviravoltas, acaba por assumir a personalidade de um soldado que que é incorporado à guerra, no exército colonial inglês, porque, como já prenuncia a trama, “não sabe dizer não”. Nessa jornada, o público acompanha a morte simbólica de uma personagem para o nascimento de outra, com direito a enterro e novo documento de identidade. De 17 de maio a 02 de junho (de sexta a domingo), às 19h, Teatro Martim Gonçalves (Canela). Entrada gratuita (senhas distribuídas 1 hora antes do espetáculo).
A encenação da Cia. de Teatro da UFBA, assinada por Caio Rodrigo e Pedro Benevides, ressalta a reflexão da peça sobre a ilusão criada pelo mercado de trabalho, ao propagar a possibilidade de ascensão social ao alcance de todos, através do empreendedorismo. E o questionamento que, sem consciência de sua própria realidade e do meio onde vive, um homem pode ser facilmente substituído por outro. Nessa perspectiva, propõe pensar sobre uma educação que seja capaz de oferecer às pessoas caminhos para entender e intervir nessas estruturas, numa participação mais consciente e coletiva nos processos de transformação. Além disso, investe em detalhes que reforçam a atualidade do texto, mantendo a estratégia de Brecht, quando busca se distanciar do cenário onde ocorre a narrativa, para que essa associação possa ser feita com certa liberdade pelo público.
“Observamos que há uma recorrência nos textos de Brecht ao investigar as dinâmicas de comportamento da guerra e do militarismo na sociedade e temas como esses não podem ser ignorados nem esquecidos. Por isso, a montagem também foi concebida sob a influência de imagens midiáticas que remetem a um momento recente da situação política brasileira. Inclusive, fatos recentes da história do Brasil determinaram a escolha do texto”, conta Caio Rodrigo.
Trocas entre diferentes gerações de artistas
“Homem é Homem” reúne nomes experientes e bem conhecidos do Teatro Baiano, como Hebe Alves e Lúcio Tranchesi, e uma nova geração de atores da Escola de Teatro da UFBA, integrando diferentes experiências. A montagem, que também é um projeto de extensão acadêmica, resulta numa troca constante entre elenco e equipe nos bastidores, onde todos ganham: equipe do espetáculo e, principalmente, o público.
Sobre o processo compartilhado e colaborativo da encenação, os diretores entendem que essa parceria é um constante diálogo, incluindo contradições que resultam em sínteses que, talvez, somente um deles não conseguisse alcançar separadamente. “Isso torna o processo vivo e rico em ideias. Acreditamos que, aliando conhecimento técnico e vigor criativo, conseguimos fazer frente aos desafios da nossa montagem”, concordam Caio e Pedro.
SERVIÇO: Companhia de Teatro da UFBA estreia comédia “Homem é Homem”
Data: 17 de maio a 02 de junho (de sexta a domingo)
Horário: 19h
Local: Teatro Martim Gonçalves, Av. Araújo Pinho, 292 – Canela, Salvador – BA
Entrada gratuita (senhas distribuídas 1 hora antes do espetáculo).
Mais informações no instagram @escoladeteatro.ufba e no site https://teatro.ufba.br/
SOBRE A CIA. DE TEATRO DA UFBA
A Cia de Teatro da UFBA foi criada em 1981 e é formada por docentes, técnicos, estudantes, estagiários e artistas convidados. Seu foco é a criação e produção de espetáculos, buscando montagens de alto valor artístico e a divulgação de textos pouco conhecidos ou tendências emergentes na dramaturgia, além da releitura dos clássicos. Com 58 espetáculos produzidos, a Cia já recebeu mais de 20 prêmios, incluindo troféus locais, regionais e nacionais.
SOBRE PEDRO DULTRA BENEVIDES
Pedro Dultra Benevides é professor do Departamento de Técnicas do Espetáculo na Escola de Teatro da UFBA e formado no Bacharelado em Direção Teatral na mesma Universidade. Sua carreira artística se consolida na área da iluminação de espetáculos e já conta com mais de vinte anos de experiência com reconhecimento pelos trabalhos em mídia e indicações ao Prêmio Braskem de Teatro, nos seguintes espetáculos: “Opus 68 Cantata para piano e pedras”, “A cela” e : “Protocolo Lunar”. Em 2013, publicou o livro “Em cena O iluminador”.
SOBRE CAIO RODRIGO
Ator e diretor, formado em interpretação teatral, mestrando em artes cênicas NO PPGAC/UFBA, criador do grupo Teatro Terceira Margem, atualmente residente à Casa Preta Espaço de Cultura, Diretor artístico do festival Maré de Março, participou de mais de trinta produções teatrais na cidade. Ganhador dos prêmios Braskem de melhor espetáculo com Pólvora e poesia, também indicado ao prêmio de melhor ator, Melhor espetáculo infantil juvenil com A máquina que dobra o nada, onde atuou e dirigiu, e melhor texto com o espetáculo [ensaio] para uma Redenção, que também dirigiu. Recebeu indicação ao prêmios de revelação pela escrita do texto do espetáculo AS CIDADES. É autor, diretor (ao lado de Gordo Neto) e ator do espetáculo [sem] Drama, também indicado ao prêmio Braskem nas categorias de melhor espetáculo adulto, melhor texto e melhor direção.