O Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina, situado no bairro de Periperi, na região do Subúrbio Ferroviário, completou quatro anos neste mês de abril. A localidade, que até 2018 era conhecida como ‘Cidade de Plástico’, passou por uma das maiores intervenções urbanas e sociais da história de Salvador e abriga atualmente mais de 250 famílias, que vivem em condições dignas de moradia.
Edinézia Leite, 56 anos, que é liderança comunitária na região, recorda as condições subumanas e dificuldades que hoje são páginas viradas na história de vida de centenas de moradores. Ela recorda que, antes do conjunto habitacional, a comunidade não oferecia infraestrutura, nem saneamento básico. Muitas famílias residiam em barracos insalubres, formados por materiais como madeirite, lonas e plásticos (o que deu origem ao antigo nome da localidade).
“Não tínhamos água, energia. Sofríamos preconceito pelo fato de que, anteriormente, morávamos em barracos de papelão e plástico, em situação precária”, disse Edinha, como carinhosamente é conhecida pelos vizinhos.
Muito mais do que a entrega de residências novas, para ela a transformação promovida com o projeto, implantado pela Prefeitura em toda área, elevou a autoestima das famílias beneficiárias, que passaram a contar com suporte de diversas ações sociais e estruturas, como uma creche escolar próxima das casas.
“Além disso, com a ajuda da Prefeitura, começamos a ter acesso a serviços públicos, como a oportunidade de tirar documentos. Muitos ainda não tinham aqui. De fato, a comunidade está mais feliz”, pontuou.
Uma das moradoras mais antigas da comunidade Guerreira Zeferina, Georgina Maria da Costa, de 64 anos, também não esconde a alegria de viver num ambiente que oferece qualidade de vida. “Temos lazer e acesso a muitas coisas que antes acreditávamos que nunca iam acontecer. Eu costumo brincar que mudamos do lixo para o luxo. Não tínhamos identidade, mas hoje temos a dignidade de sermos tratados como pessoas”, afirmou.
Emocionada, a professora de capoeira Marta Alice, 42 anos, mora na localidade desde o tempo dos barracos, há quase duas décadas. “Acompanhei toda a transformação desde o início da ocupação. Hoje sou privilegiada por ter acesso a saneamento básico, saúde, infraestrutura, educação e tantos serviços que são oferecidos”, celebrou.
Urbanização – Antes de 2018, a comunidade Guerreira Zeferina era marcada pela carência e falta de estruturas básicas. A área de 20 mil m² foi alvo de transformação urbanística e recebeu um amplo conjunto habitacional, composto por apartamentos distribuídos em 10 prédios, com dois ou três quartos. Além disso, o conjunto dispõe de 20 moradias adaptadas, para pessoas com deficiência.
No local também foram construídos uma escola, que atende crianças de dois a cinco anos em ensino integral; campo de futebol; centro comunitário, miniquadra; boxes comerciais; espaço de convivência e lazer; calçadão de acesso à praia; deque; e estacionamento. Com coordenação geral da Casa Civil, a intervenção na localidade teve o projeto urbanístico desenvolvido pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF). Tudo foi feito em diálogo com os próprios moradores.
Sustentabilidade – O projeto de urbanização da Guerreira Zeferina também se preocupou com questões ambientais. Um acordo de cooperação, entre a Prefeitura e a Coelba, viabilizou a implantação de um sistema de geração de energia solar fotovoltaica, para prover energia elétrica às áreas comuns do conjunto habitacional.
Os painéis fotovoltaicos trouxeram economia para os moradores, que não arcam com esse consumo, além de beneficiar a creche da comunidade, dentre outras estruturas.
Documentário – A história de transformação da localidade está registrada no documentário “Zeferinas – Guerreiras da Vida”, lançado em 2019. A obra audiovisual traz o relato de quatro mulheres – Cassileide, Vanda, Tâmara e Miriã – que viveram na antiga Cidade de Plástico e passaram a ser moradoras do conjunto habitacional.
Em quase 30 minutos de duração, a narrativa faz um elo entre a história de superação do presente e a da líder quilombola que lutou pela liberdade no Subúrbio Ferroviário, no século XIX, e dá nome ao local hoje. O vídeo pode ser conferido no canal da Prefeitura de Salvador no YouTube, no endereço https:// bityli. com/ vEjcT.
Fotos: Igor Santos e Jefferson Peixoto/Secom e Max Haack/Arquivo Secom