O Brasil seria representado por seis surfistas —três no masculino e três no feminino— no ISA World Surfing Games 2018, que ocorre de 15 a 22 de outubro no Japão. Porém, a CBSurf (Confederação Brasileira de Surfe) decidiu não enviar nenhum atleta para a competição que dará duas vagas por gênero nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019, após ter dificuldades com logística e organização.
O campeonato entre países organizado pela ISA (Associação Internacional de Surfe) não é o último classificatório para o Pan do ano que vem, e os atletas terão novas chances de se classificar. No Japão, os representantes brasileiros no ISA Games seriam Ian Gouveia, que integra o Circuito Mundial de Surfe, Geovane Ferreira, Marcos Corrêa, Larissa dos Santos, Gil Ferreira e Anne dos Santos.
Na noite da última quarta-feira (12), os atletas foram informados pela CBSurf do cancelamento da viagem em um grupo de WhatsApp. “Creio que vocês têm acompanhado o nosso esforço. O fato é que a demora na obtenção dos vistos tornou ainda mais difícil a nossa missão. No final das contas, foi impossível a compra das passagens, a viabilização do hotel, da alimentação e também do transporte no Japão”, disse a entidade.
“O fato é que, hoje, o sistema de compras de passagens do COB não encontrou voos que não fossem pelos Estados Unidos, mas, como nenhuma das três meninas tem visto americano, nós não podemos ir para o Japão apenas com os homens. Estamos frustrados com esta situação, principalmente depois de todo o esforço que nós empreendemos, mas a situação se tornou impossível de resolver”, finalizou.
A CBSurf afirma que teve problemas para conseguir os vistos japoneses, e, como só poderia comprar as passagens com a documentação em dia, a decisão ficou para última hora. Além disso, a entidade também teve dificuldade para cumprir normas do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) em relação a cotação de preços de passagem, hospedagem, alimentação e transporte. Por se tratar de recurso público, a confederação deve apresentar diferentes propostas e valores para viabilizar a viagem.
Ainda de acordo com a CBSurf, a decisão de não mandar a equipe brasileira ao Japão foi tomada para evitar o risco de ter a prestação de contas rejeitada. Neste caso, a entidade pararia de receber recursos do COB e teria que devolver o dinheiro gasto no Japão, que seria em torno de R$ 200 mil. A confederação diz que não tem patrocinadores e apenas recebe a verba da Lei Agnelo/Piva.
“Pela nossa estrutura, não tem condição de correr o risco de comprometer nosso planejamento até a Olimpíada. Solicitamos ao COB que operasse a viagem, mas eles só conseguiram comprar passagem pelos EUA, e alguns atletas não têm visto americano. Aí ficou a situação de ir metade dos atletas ou ir ninguém, mas, como é um time, optei por não ir ninguém. Não houve má intenção nossa e nem do COB. Estamos decepcionados, mas foi melhor ser prudente agora. O COB aconselhou a não correr o risco”, disse Adalvo à reportagem.
Já o COB informou, através de sua assessoria de imprensa, que “aprovou a liberação de verba para o projeto apresentado pela CBsurf para o ISA Games no dia 17 de julho, com previsão de repasse de recurso e início da execução do projeto pela CBSurf em 1º de agosto. No entanto, na data prevista para repasse, a CBSurf estava impossibilitada de receber recursos da Lei Agnelo/Piva por não ter apresentado documentos necessários e obrigatórios para prestação de contas de projetos anteriores. Assim que a CBSurf regularizou sua situação de prestação de contas, no dia 3 de setembro, o recurso foi disponibilizado”.
O COB ainda diz que se colocou à disposição para executar o projeto, mas que a CBSurf optou por aguardar o momento que pudesse receber a verba e executar o projeto. Segundo a entidade, a CBSurf procurou o COB na última quinta-feira (6) para falar das dificuldades operacionais que poderiam acarretar em problemas na futura prestação de contas e foi orientada.
“Na segunda-feira, dia 10, a CBSurf esteve novamente no COB e informou que não tinha conseguido fazer nenhuma das contratações necessárias. Mesmo diante do curtíssimo prazo para a viagem, o COB buscou, mais uma vez, auxiliar a confederação na organização desta ação”, diz a nota.
Por fim, a entidade máxima do esporte brasileiro explicou que, quando a confederação solicitou as passagens aéreas, só haviam voos para o Japão com escala nos Estados Unidos, o que impossibilitaria a ida das três atletas que não têm visto americano.
“A CBsurf era a responsável por conseguir os vistos para seus atletas e a equipe feminina não dispunha de visto americano. Pela Europa, só havia disponibilidade de passagens de primeira classe e a Lei Agnelo/Piva não permite a compra de passagens desta categoria. Por decisão da CBSurf, a participação no Mundial foi então cancelada”, afirma o COB.
Um dos surfistas que representaria o Brasil no Japão, Geovane Ferreira lamentou a decisão. Ele diz que bancou passagens para São Paulo do próprio bolso para poder tirar o visto japonês. “Investimos dinheiro, tempo, fiquei cinco dias em São Paulo, fui quatro dias no Consulado Japonês, tirei o visto e paguei o visto para chegar nesse momento e falar que não vai dar porque não conseguiram organizar”, declarou à reportagem.
“O Brasil vive o melhor momento no surfe, ganhou sete etapas de oito no WCT [Circuito Mundial] e fico pensando que não estão dando valor nenhum a quem representa o nosso país. O mínimo que poderiam fazer é tentar valorizar a gente um pouco mais”, acrescentou.
Nas redes sociais, Filipe Toledo, líder do ranking mundial do WCT, se solidarizou aos surfistas. “Impressionante, até nos dias de hoje, na facilidade de ter todos os recursos para que os processos possam ser muitas vezes mais rápidos, eles conseguem fazer isso! CBS, que vergonha! Espero que isso nunca mais aconteça com nenhum atleta do nosso país! Que vocês possam tratar eles como deveriam, com respeito”, publicou.
Bahia Notícias