Muito se especula sobre o congelamento de cordão umbilical para usar as células-tronco em problemas futuros. Mas, afinal, vale realmente a pena congelá-lo e guardá-lo?
Segundo o hematologista Vanderson Rocha, coordenador médico da Unidade de Transplante de medula óssea do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e a bióloga Maristela Orellana, supervisora do laboratório de terapia celular do hemocentro da USP de Ribeirão Preto (USP-RP), a resposta é não.
Os especialistas explicam que as células-tronco encontradas no sangue do cordão umbilical estão presentes, também, na medula óssea e, assim, se houver necessidade do uso de tais células, elas podem ser extraídas de lá.
“As células-tronco congeladas não poderiam ser utilizadas pela própria pessoa pois, se ela precisar realizar um transplante de medula óssea, o procedimento deve ser realizado com células saudáveis. Transplantar as células-tronco em si mesmo significaria, então, colocar células que já estavam doentes no próprio corpo”, afirma Maristela.
“O uso desse sangue, atualmente, só é destinado a transplantes de medula óssea durante o tratamento para leucemias”, explica o hematologista.
Maristela complementa que, recentemente, foi aprovado o uso das células tronco do cordão umbilical para o tratamento de anemia falciforme, doença hereditária que provoca a alteração do formato dos glóbulos vermelhos, tornando-os parecidos com uma foice e, como a membrana dessas células é alterada, elas se tornam mais fáceis de serem rompidas, provocando anemia.
Critérios para congelamento são rigorosos
Embora o congelamento do cordão umbilical não valha a pena para uso próprio, sua doação é viável, ajudando no tratamento de outras pessoas, afirmam os especialistas. Mas, para isso, há uma preparação específica.
Para ser doado, o cordão umbilical deve vir de uma pessoa saudável, ou seja, o sangue desse cordão deve ser rico em células, não conter bactérias, e o doador não pode ter leucemia, doenças genéticas, anemia falciforme ou doenças genéticas do metabolismo. Devido a esses fatores, Rocha afirma que a cada 100 cordões umbilicais doados, 25 podem ser congelados por atenderem a todos os critérios
Maristela afirma que a doação das células só pode ser realizada em uma das 12 maternidades autorizadas para o colhimento correto do cordão umbilical. O procedimento ocorre pela rede pública de saúde e os cordões são armazenados em bancos públicos, onde são congelados a 180°C negativos e tem a duração de até 30 anos.
Para esse sangue ser utilizado, é preciso que o cordão doado e o paciente a recebê-lo tenham uma compatibilidade genética de 70%. O receptor pode ser de qualquer idade e, dependendo da altura e do peso, pode precisar de transplante de medula óssea proveniente de dois cordões, devido à quantidade de células necessárias.
A doação de medula óssea oriunda de cordão umbilical entre irmãos também é possível. Entretanto, segundo a bióloga, a chance de compatibilidade é de 25%, sendo uma opção a ser tentada “na sorte”.
Após a verificação de compatibilidade, a medula óssea é extraída do sangue do cordão, passando por um processo de aférese —procedimento que faz uma “centrifugação” no sangue doado, separando as células que serão injetadas no sangue do paciente.
Bancos públicos e privados apresentam diferenças
Rocha afirma que o armazenamento desses cordões é diferente entre bancos públicos e privados. De acordo com o médico, enquanto os bancos públicos seguem padrões internacionais de armazenamento, os bancos privados não possuem a creditação necessária.
Segundo Maristela, por ter padrões de armazenamento diferente, esses cordões não passam para armazenamento público, não podendo ser aproveitados. Em bancos privados, a doação desses cordões só pode ser realizada entre parentes da pessoa com o cordão congelado.
Bancos privados cobram anuidade para manter o cordão umbilical congelado. Caso os pais desistam de manter o cordão do filho congelado, ele será descartado, segundo a bióloga.
R7