Cerca de 5 mil mulheres israelenses e palestinas se reuniram, no fim de semana, em um congresso às margens do Mar Morto para defender a ideia de que a solução para o conflito que presenciam a cada dia está nas suas mãos, e não nas dos políticos.
Em muitos casos vítimas do conflito, as participantes do fórum Mulheres Ativas pela Paz são de toda a esfera política e social: de judias esquerdistas ex-hippies a colonizadoras sionistas de direita, de muçulmanas praticantes, algumas usando hijab, a palestinas ateias.
“Temos muita experiência na guerra e nenhuma na paz, chegou a hora de adquiri-la”, disse à Agência EFE Tami Avigdor, integrante do fórum, que já tem 27 mil participantes em Israel e nos territorios administrados pela Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Elas chegaram ao lugar que batizaram como Kfar Hashalom (Povo da Paz, em hebraico) no norte do Mar Morto, em mais de 70 ônibus fretados, procedentes de todas as partes do país e da Cisjordânia.
“É um dia histórico, hoje termina a marcha de duas semanas que fizemos ao longo de todo o país”, afirmou Walifait Haider, de Haifa.
A marcha que essas mulheres fazem todos os anos desde a fundação do fórum, em 2014, exige dos políticos um acordo de paz que beneficie todas as partes.
Para que isso aconteça, nos próximos dias será formado em Jerusalém um parlamento alternativo de 120 mulheres, que representará todas essas mães e filhas do conflito. Elas entendem que têm que tomar as rédeas das decisões políticas ou, pelo menos, pressionar o suficiente para que algo mude.
“Não acredito na liderança masculina, cria mais problemas do que o tolerável, e já mostraram isso ao longo dos séculos”, afirmou Yeilah Raanan, do kibutz Kisufim, que fica a 1,5 quilômetro de Gaza.
Como ela, as integrantes do Fórum Mulheres Ativas pela Paz acreditam que as mulheres pagam um preço muito alto pelas guerras e que, por isso, têm maior interesse em pôr fim aos confrontos.
“Meu marido e meu irmão estão em prisões israelenses. Um dos meus filhos foi detido em diversas ocasiões por jogar pedras e coisas. Eu, de verdade, não quero que os meus netos nasçam em um mundo assim, por isso estou aqui”, afirmou Saida, natural de Hebron.
Quando for formado o parlamento alternativo, as israelenses e palestinas assinarão um acordo de paz, que consideram útil e válido, e o levarão ao Knesset (Parlamento israelense) como proposta de trabalho.
A marcha deste ano foi bem recebida pelos prefeitos das cidades por onde as ativistas passaram, tanto pelos do partido governista Likud quanto pelos opositores e toda a esfera política.
“Foi muito surpreendente que nos acolhessem de modo tão caloroso e nos parabenizassem pela iniciativa. Surpreendente e emocionante”, afirmou Tami Avigdor.
Vestidas de branco em sua maioria, as mulheres conversavam, se abraçavam, dançavam, comiam. Algumas trouxeram os filhos, outras estavam acompanhadas dos maridos.
Houve painéis de discussão nos quais se ouvia hebraico, árabe e inglês quase indistintamente, com participantes traduzindo-se umas às outras sempre que necessário.
Também estiveram presentes mulheres de outras partes do mundo, como chinesas, australianas, espanholas e tailandesas. Junto com as palestinas e israelenses, elas cantaram a Oração das Mães, da cantora israelense Yael Deckelbaum, que compôs o hino para esse movimento.
O fórum Mulheres Ativas pela Paz nasceu no verão de 2014, durante os 50 dias de confronto entre Hamas e Israel, nos quais 73 israelenses e 2.200 palestinos morreram
Agência Brasil