“A obesidade é a segunda maior causa evitável de câncer, perdendo apenas para o tabagismo. E, além do câncer, problemas como diabetes, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e doenças cardiovasculares podem ser evitadas a partir de medidas simples para controlar o excesso de peso.”
O alerta vem do oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia (CPO), unidade do Grupo Oncoclínicas em São Paulo. Segundo pesquisa realizada no final de 2016 pelo Cancer Research UK, do Reino Unido, três em quatro pessoas desconhecem a relação entre o excesso de peso e o diagnóstico de ao menos 10 tipos de câncer: esôfago, vesícula, fígado, pâncreas, rins, intestino, útero, ovário, mama e próstata.
Um novo estudo conduzido nos EUA, e apresentado durante o encontro anual da Sociedade Americana de Endocrinologia (ENDO 2019), sugere que uma das medidas eficazes de prevenção dos tumores mamários seria restringir os horários das refeições, permitindo a ingestão de alimentos dentro de um período de oito horas diárias.
Isso ajudaria a acelerar o metabolismo corporal e, com isso, reduziria drasticamente o sobrepeso e o possível surgimento do câncer de mama entre mulheres no período pós-menopausa. Essa seria ainda uma alternativa mais eficaz do que as dietas baseadas no corte de calorias.
“Não se trata do jejum intermitente, que é bem mais agressivo. O princípio dos esquemas e dietas é tentar manipular a liberação de insulina, um hormônio que coloca glicose para dentro das células. Mas as pessoas não podem ser privadas de glicose, pois a baixa pode levar a paradas respiratórias, derrames. A pessoa em jejum vai transformar gordura em glicose”, explica o médico.
Indivíduos com IMC acima de 30 têm o risco para câncer aumentado e piora o prognóstico. “A pessoa obesa tem risco maior do que a da população em geral, é uma variável independente.”
Essa pesquisa inicialmente avaliou o comportamento de ratos obesos submetidos à limitação no horário de acesso à comida. O efeito ‘anti-tumor’ dessa medida seria justificada pela redução nos níveis de insulina no sangue, promovendo uma resposta efetiva tanto para a prevenção quanto para melhores respostas ao tratamento do câncer de mama, afirmou o pesquisador que liderou a análise, Manasi Das, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos).
Para o oncologista Daniel Gimenes, ainda é cedo, para assegurar a eficácia desse tipo de medida, já que ainda não há registro de resultados do teste em humanos.
“Apesar de ainda tratarmos como uma hipótese, é fato que existem diferentes maneiras pelas quais a obesidade pode aumentar os riscos de câncer em mulheres. Essa nova pesquisa mostra que, assim como outros cientistas já vinham apontado, estabelecer uma janela de tempo reduzida para o consumo de alimentos é efetivo para manter os níveis de insulina do corpo baixos. Quando isso ocorre, as nossas células de gordura começam a queimar seu estoque de açúcar como fonte de energia. Assim começa a acontecer a perda de peso”, contextualiza.
O médico relata também um estudo alemão realizado com pacientes que faziam quiomioterapia. Um grupo se interessou em ter acompanhamento para fazer exercício físico e dieta, com um grupo. Outro grupo recebeu folhetos e deixou lá.
“Os resultados mostram que atividade física e a dieta reduziram o risco de recorrência de câncer de mama. A gente estava esperando por esses resultados. Se a mulher deixa de ser obesa dá certo? Dá”, analisa.
Para o dr. Daniel Gimenes é importante ressaltar que a atividade física recomendada é aeróbica, a ponto de ter sudorese, cinco vezes por semana, por meia hora. Precisa se tornar um hábito, e os benefícios virão.
É imperativo, para o oncologista, o desenvolvimento de políticas públicas que orietem a sociedade sobre hábitos alimentares pouco saudáveis, como ingestão de gorduras, açúcares e produtos industrializados em excesso. “Fast Food, salgadinhos de pacote, embutidos, refrigerantes e ultraprocessados em geral são os responsáveis pelo aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre a população nos mais diversos países, inclusive o nosso. Estes sim fatores que sabidamente elevam os riscos de incidência de câncer e devem ser diretamente evitados em todas as fases da vida e independentemente do gênero”, explica o médico.
No Brasil, segundo os dados mais recentes do IBGE, quase 60% da população está acima do peso. Considerando-se apenas os impactos na incidência de câncer, estimativas do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), indicam que pelo menos 15 mil dos casos de câncer registrados por ano no país – uma fatia que representa 3,8% do total – poderiam ser evitados a partir de medidas voltadas ao combate ao sobrepeso e à obesidade. Destes, 10 mil atingiriam mulheres e os outros 5 mil homens.
E essa é uma realidade que tende a evoluir de forma negativa: até 2025 serão 29 mil novos casos de câncer causados pelo excesso de peso (4,6% do total) segundo o estudo epidemiológico, feito em colaboração com a Harvard University (Estados Unidos) e publicado em 2018.
O oncologista do CPO reforça que manter uma alimentação equilibrada é a chave para a diminuição da progressão dos casos de câncer. “A dieta saudável é aquela que o indivíduo tem a orientação de um nutricionista ou nutrólogo e que tenha um cardápio composto de alimentos integrais, frutas, verduras, proteínas de carne branca, além de limitar o consumo de carne vermelha, carnes defumadas e processadas e a ingestão de bebidas alcoólicas”, recomenda Daniel Gimenes.
R7