Manifestações gastrointestinais podem ser sinais de covid-19. Cerca de 30% das pessoas que contraem a doença apresentam algum sintoma ligado ao sistema digestivo, como diarreia, náusea, vômitos e alterações no funcionamento do fígado, segundo a gastroenterologista Amanda Morêto Longo.
Ela explica que o novo coronavírus se liga à enzima ECA2, presente no trato respiratório, mas que também está em algumas células do sistema gastrointestinal, principalmente do estômago, do duodeno e do reto. O vírus interrompe a função dessas células aumentando a permeabilidade celular, o que faz com que ela libere eletrólitos, como sódio, potássio e bicarbonato.
Isso leva a uma inflamação do órgão e pode causar redução do apetite, diarreia, náuseas e vômitos. A médica ressalta que a diarreia, por sua vez, pode acarretar a desidratação ou perda de eletrólitos do corpo, piorando o quadro clínico do paciente.
“Em casos extremos, o paciente pode ter até um choque hipovolêmico [diminuição extrema do líquido do corpo]. A diminuição da perfusão do sangue faz com que ele não consiga chegar de maneira adequada a todos os órgãos do corpo, inclusive no pulmão. O sangue é quem carrega o oxigênio, então a saturação do paciente pode diminuir ainda mais.”
Os sintomas do choque hipovolêmico podem ser mãos geladas, flutuação do nível de consciência, pressão baixa e redução da diurese. A desidratação também afeta a homeostase, que é o equilíbrio do corpo. “Tudo que afeta esse equilíbrio pode alterar a resposta a estímulos externos, inclusive a resposta imunológica.”
Amanda afirma que uma das principais queixas se dá em relação à diarreia, sintoma que pode continuar mesmo após a resolução da doença. O paciente vai ao banheiro várias vezes ao dia, interferindo na qualidade de vida. Estudos mostram que a diarreia dura de 5 a 7 dias, segundo a médica. “Apesar disso, tenho observado no consultório que em alguns pacientes a diarreia perdura por até um mês.”,
A gastroenterologista explica que o vírus também pode causar adenite mesentérica, uma inflamação dos gânglios linfáticos do mesentério, camada de gordura que cobre e protege o intestino. “Isso causa uma dor muito similar com a de apendicite. Muitos pacientes, no começo, foram submetidos a cirurgia, mas vimos que não tinha nada. Com a biópsia verificamos um aumento dos linfonodos e a presença do vírus.”
Outro órgão afetado pela covid-19 é o fígado, mas não por ação direta do vírus, segundo a médica. A diminuição da saturação de oxigênio no sangue afeta o funcionamento do órgão, assim como a cascata de citocinas, ou seja, a inflamação generalizada no corpo.
R7