Há poucos relatos de cães e gatos de estimação infectados com o coronavírus em todo o mundo. O primeiro caso foi confirmado no começo de março, em Hong Kong, quando um cachorro foi contagiado por sua dona. No Brasil, uma gata foi diagnosticada com o vírus em Cuiabá, no Mato Grosso. Ela foi infectada por seus donos este mês, mas não apresenta sintomas de covid-19.
“A professora Valéria [que confirmou o caso] teve acesso a uma família em que todos os membros estavam positivos [nos testes para covid-19] e as pessoas tinham contato com o gato. Ela fez o exame, deu positivo e agora vai vir para nós, para que possamos atestar também”, explica o professor Alexander Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
O especialista coordena uma pesquisa liderada pela univesidade para analisar o risco de transmissão do coronavírus de humanos para animais no Brasil. Ele destaca que não existem evidências de que animais de estimação podem infectar pessoas e a expectativa entre os cientistas é que isso não venha a acontecer.
“Apesar de sabermos que o risco é baixo para cães e gatos. A gente está criando ferramentas para monitorar essa transmissão. Mas os estudos mostram que são raras as infecções desses animais e eles apresentam sinais clínicos leves ou nenhum sinal”, detalha.
Estudo semelhante ao brasileiro só foi realizado na Itália. Segundo Alexander, o levantamento envolveu 817 animais. Nenhum foi positivo no teste RT-PCR, considerado padrão ouro para diagnóstico da infecção pelo coronavírus, mas 3,4% dos cães e 3,9% dos gatos apresentaram anticorpos contra ele.
De acordo com dados atualizados até o dia 16 de junho publicados na revista científica Clínica Veterinária, o coronavírus havia sido detectado em 22 gatos ao redor do mundo. Destes, 12 estavam assintomáticos. Em contrapartida, apenas cinco cães foram infectados com o vírus nesse período.
“Cães podem ser mais resistentes à infecção por SARS-CoV-2 do que gatos porque têm pouca expressão do receptor ACE-2 [enzima que o coronavírus usa para entrar nas células] no trato respiratório”, afirma um estudo publicado no Journal of Virology, da Sociedade Americana de Microbiologia.
“Mesmo que este receptor possa interagir com o SARS-CoV-2, a pouca expressão em órgãos que têm contato com o ambiente externo limita a possibilidade de iniciar o processo infeccioso”, diz ainda a publicação.
Para proteger esses animais, O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), dos Estados Unidos, recomenda que os donos não deixem ocorrer interações com pessoas fora de casa.
Além disso, gatos devem ser mantidos dentro da residência e o passeio com cães deve ser feito com coleiras e matendo o distanciamento mínimo de dois metros em relação aos outros.
O órgão afirma que máscaras não devem ser colocadas nos pets. “Não há evidências de que o vírus possa se espalhar para as pessoas pela pele ou pelo de animais de estimação. Não limpe ou dê banho neles com desinfetantes químicos, álcool e outros produtos”, orienta.
Quem está com covid-19 deve restringir o contato com seus animais e, se possível, pedir para outra pessoa cuidar deles. Mas se não tiver alternativa, o uso de máscara e a lavagem de mãos [e essencial antes e depois das atividades. “A pessoa deve evitar carinhos, beijos e lambidas”, ressalta Biondo.
De acordo com Biondo, os animais mais suscetíveis à infecção pelo novo coronavírus são os visons. Casos foram confirmados somente na Holanda. Esses mamíferos têm sido criados em cativeiro para alimentar o mercado de pele. Surtos foram registrados em quatro fazendas do país europeu, onde dois trabalhadores foram infectados com o vírus que circula nesses animais.
O CDC informa que ainda são necessárias mais informações sobre o vírus, mas “parece que ele pode se espalhar de pessoas para animais em algumas situações, especialmente após contato próximo com uma pessoa doente”.
No país, o primeiro animal com diagnóstico de coronavírus foi um tigre. O caso aconteceu em um zoológico de Nova York, onde outros felinos também testaram positivo. Autoridades de saúde acreditam que eles adoeceram após o contato com um funcionário do local que estava infectado.
Pesquisas recentes mostram que, em laboratório, gatos, furões e hamsters sírios dourados podem espalhar o vírus para outros animais da mesma espécie em laboratório. Entretanto, não se sabe se isso acontece com facilidade.
O estudo liderado pela UFPR será feito com cerca de mil animais que tenham donos com diagnóstico ou anticorpos para a covid-19. Além de Curitiba, mais quatro capitais participam da pesquisa: São Paulo, Belo Horizonte, Campo Grande e Recife.
Segundo Biondo, a coleta de amostras dos animais já começou e é feita na casa dos voluntários, por pesquisadores devidamente paramentados.
“Nós já estamos coletando e até o final do ano teremos a prevalência do coronavírus entre cães e gatos dessas cidades”, conta. “Caso os resultados sejam positivos, vamos repetir o teste e poderemos incluir também outros animais de companhia da família”, acrescenta.
R7